Título: OIT prevê queda na exportação e no nível de emprego com fim de regime de cotas
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2005, Brasil, p. A2

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que as exportações brasileiras de vestuário podem cair 40,5% e as de têxteis, 26% para Estados Unidos, União Européia e Canadá, com perda de 12.800 empregos com o fim do regime de cotas que restringia a entrada desses produtos. Ao mesmo tempo, calcula que as vendas da China tendem a crescer 386% para esses mercados, além de ampliar exportações, inclusive para o Brasil. Pequim poderia criar cerca de 2,1 milhões de empregos, que vão se juntar aos atuais 19 milhões de operários no setor. O estudo da OIT foi divulgado ontem, na abertura da primeira reunião de empresários, dirigentes sindicais e governos dos principais países produtores e consumidores de têxteis e vestuário, para examinar a liberalização do setor. As exportações globais alcançam US$ 350 bilhões por ano e o setor tem 40 milhões de empregados. Os representantes brasileiros se juntaram ao coro internacional pedindo para a OIT impor "regras mínimas" de condições de trabalho na China, para evitar prejuízos adicionais em suas economias. O presidente do poderoso sindicato alemão IG Metall, Manfred Schallmeyer, denunciou as condições de trabalho na China como próximas da escravidão. Denunciou também que, para concorrer com os preços cada vez mais baixos dos chineses, outros países estão diminuindo a proteção a seus trabalhadores. Exemplificou que Bangladesh admite semana de 72 horas de trabalho e El Salvador acabou com a lei do salário mínimo no setor. Outros participantes falaram de exportação de bens fabricados por prisioneiros políticos. Eunice Cabral, presidente do Sindicato de Costureiras de São Paulo e Osasco, mencionou a situação do Brasil onde, segundo ela, entra uma enorme quantidade de produto subfaturado procedente da China. Os analistas da OIT demoraram dez anos para fazer um relatório sobre o impacto do "novo" mercado mundial de têxteis e confecções para concluir que o mercado será mais exigente, mais sensível ao respeito de normas internacionais de trabalho e à busca de alianças ditas estratégicas.