Título: TAP propõe investir até US$ 500 milhões para recuperar Varig
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2005, Brasil, p. A6

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A companhia aérea portuguesa TAP apresentou ontem no tribunal de falências de Nova York uma proposta para aportar até US$ 500 milhões na Varig a médio prazo, e comprometeu-se a participar como investidora no plano emergencial para levantar US$ 62 milhões numa companhia de propósito específico que ficará com as ações da Varig Log e da VEM. A proposta feita pela TAP convenceu o juiz Robert Drain a permitir que a Varig continue com os aviões até o dia 9 de novembro, desde que cumpra algumas condições. A primeira delas é de que todos os recursos da operação liderada pelo BNDES sejam direcionados ao pagamento das parcelas de leasing atrasadas. Outra condição para que a liminar não seja suspensa é de que a companhia faça relatórios às empresas de leasing sobre as peças que estariam sendo retiradas de aviões parados e explique como vai financiar a manutenção dos aviões daqui para frente, já que, segundo Omar Carneiro da Cunha, presidente da Varig, a companhia está com fluxo de caixa negativo. O total de pagamento de leasing em atraso é hoje de US$ 72 milhões e aumenta em cerca de US$ 8 milhões por semana. O juiz alertou a Varig que os sucessivos adiamentos nos pagamentos às empresas de leasing estão nos limites da paciência dos credores. Ela afirmou também que a companhia está tratando de forma diferenciada os credores, pagando em dinheiro vivo os fornecedores de combustível como Petrobras, Shell e Esso e também a fornecedores de refeições. Para ele, a Varig deve tentar tratar todos igualmente o mais rápido possível. Drain ressaltou que a ordem dada pelo Tribunal de Nova York não impede que os credores tentem retomar os aviões na Justiça brasileira. Ele afirmou, no entanto, que os depoimentos dos executivos da Varig e da TAP são "dignos de crédito" "Estou preparado para continuar com a liminar até o dia 11, mas para isso é preciso mostrar algum avanço nas negociações na audiência do dia 9", disse Drain. A intenção da TAP é tornar-se a maior investidora individual da companhia brasileira e participar do grupo de controle, respeitando entretanto o limite legal de 20% de participação acionária estrangeira em companhias aéreas. O presidente da Varig apresentou ao juiz Drain uma carta do presidente da TAP, Fernando Pinto, na qual a empresa portuguesa garante a intenção de participar como investidora no plano montado pelo BNDES para levantar os recursos de curto prazo necessários ao pagamento das empresas de leasing, evitando o arresto de até 30 aviões da companhia. Fernando Pinto também participou da audiência no tribunal como testemunha, assim como o ex-diretor do BNDES, Eleazar de Carvalho, que é membro da atual administração da Varig. A "nova" Varig poderia ter o capital pulverizado, imagina o presidente da companhia portuguesa, que já presidiu a empresa brasileira. "Vamos primeiro participar deste aporte de recursos inicial e vamos avaliar se será necessário tomar o crédito do BNDES ou não", afirma Fernando Pinto. Na carta do presidente da TAP ao presidente da Varig, a companhia portuguesa compromete-se a disponibilizar os recursos até 15 de novembro. O texto da carta afirma que "a TAP e seus parceiros de investimento estão dispostos a prover financiamento adicional. Sujeito a aprovação do comitê de credores e do tribunal de reestruturação brasileiro, a TAP proverá um investimento em participação acionária de até US$ 500 milhões". Parte destes recursos poderiam entrar como participação em ações preferenciais. Existe a alternativa de constituir um fundo no Brasil para depósito dos recursos dos investidores, que comporia então uma parte considerada "nacional" do investimento. Mas o plano da TAP é pulverizar o capital da Varig reestruturada, no qual uma participação de 20% do capital votante seria a maior participação individual. Fernando Pinto diz que a TAP "não está contando" com uma mudança na legislação para deter uma participação acionária superior a 20% na Varig reestruturada. Do total de US$ 500 milhões estimado na carta, cerca de US$ 200 milhões viriam da TAP, controlada pelo governo português, e o restante de outros investidores de Portugal e de outros países cujos nomes não foram revelados. O presidente da TAP disse que o grupo está sendo organizado pelo banco JP Morgan e que um acordo inicial já foi assinado. Outras três ainda estariam em negociação. Pinto afirmou ainda que o governo português também poderia fazer investimentos diretos na Varig. O executivo foi duramente criticado pelos advogados das empresas de leasing, que afirmavam não poder confiar em investidores não identificados. A companhia mais agressiva é a Boeing Capital, que mesmo após ouvir as propostas da TAP disse que preferia retomar os aviões agora. Outro ponto da carta que provocou polêmica entre as empresas de leasing foi a afirmação de que os recursos de curto prazo conseguidos pela empresa serão usados de maneira "prioritária para pagar o aluguel e manutenção em atraso com as companhias cujas aeronaves ainda estão sendo operadas pela Varig no momento do investimento". O advogado da Boeing Capital, Richard Smolev, perguntou ao presidente da Varig se a intenção da frase era de evitar o pagamento de atrasados a empresas de leasing que conseguissem retomar os aviões. Cunha disse que precisaria consultar os advogados. Grande parte da audiência foi consumida com testemunhas convocadas pelas empresas de leasing para alegar que os aviões da Varig estão sendo "canibalizados" numa proporção maior do que em outras companhias aéreas, dizendo que peças de aviões parados estão sendo transferidas para outros aviões por falta de recursos para manutenção. O diretor técnico da Boeing Capital, Bruce Beadell, disse que um dos aviões cujo contrato de leasing terminou e foi devolvido à companhia não cumpria as condições de manutenção. O diretor operacional da Varig contestou as afirmações de Beadell.