Título: PSDB quer afastamento de Azeredo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2005, Política, p. A9

Crise Sucessão interna, prevista para novembro, pode ser antecipada

A cúpula do PSDB considera que o afastamento imediato do senador Eduardo Azeredo (MG) da presidência do partido é a melhor saída para evitar maiores desgastes aos tucanos, mas quer conduzi-lo com diplomacia política para não parecer uma "condenação" ao ex-governador de Minas. Entre reuniões que começaram no final de semana, os dirigentes do PSDB esperam liqüidar a questão em no máximo três dias. A avaliação no Congresso é que a descoberta de que Azeredo utilizou, em 2002, recursos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para quitar dívidas da campanha de 1998 retira da oposição a credibilidade para criticar o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por outro lado, o episódio pode levar as CPIs a vasculhar as campanhas estaduais. Já estava acertado que, no dia 18 de novembro, o prefeito José Serra (presidente licenciado da legenda) passaria a presidência ao senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Isso vai acontecer de qualquer jeito, porque é prova da unidade do partido", afirmou um integrante da cúpula. O temor dos tucanos é antecipar essa transição e prejudicar a imagem de Serra, o principal candidato do partido à Presidência da República em 2006. Já foi até cogitado que um vice-presidente, provavelmente Aloysio Nunes Ferreira, poderia assumir a legenda por alguns dias, até o dia 16 de novembro. Como a operação parece ser muito complexa, o mais provável é que, se Azeredo optar pelo afastamento com base na sutil pressão dos dirigentes, Serra assuma de imediato e evite tratar do tema. Petistas devem insistir na convocação de Azeredo a prestar depoimento na CPI dos Correios. O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que é precipitado dizer se Azeredo mentiu ou não à comissão. Ele negou ter ligações com Marcos Valério. Reportagem da revista "IstoÉ" revelou que Marcos Valério pagou uma dívida de R$ 700 mil de Azeredo com o ex-tesoureiro do PSDB em Minas, Cláudio Mourão. Serraglio disse que o trabalho das CPIs não pode ser atropelado. "Nós investigamos quem deu o dinheiro, e não quem usou. Eu não quero incêndio na CPI", alegou. Ele afirmou ainda que em tese não há CPI adequada para Azeredo depor, pois o fato é referente a 1998. "Não é tudo que acontece nesse país que cabe à CPI investigar". Uma corrente de governistas acha temerário para o funcionamento do Congresso o embate entre PT e PSDB, e tenta uma saída negociada. Para o PT, chegou a hora de virar o jogo e endurecer o discurso, investigando possíveis irregularidades de caixa 2 praticadas tanto pelo PFL quanto pelo PSDB. "A atitude tem que ser a mesma em todos os casos. Se o PT não está sendo poupado, não vejo sentido em poupar qualquer outro partido", defendeu o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O Planalto assiste de longe a briga. Não há interesse do governo em entrar diretamente na polêmica com o tucanato, alegando que nada vai diminuir, neste momento, a percepção negativa da população sobre as denúncias que atingem o Executivo. A avaliação é de que a situação poderia até piorar, caso houvesse um acirramento na disputa. Mas isso não quer dizer que os aliados no Parlamento estejam proibidos de partirem para o confronto. "Se os partidos no Congresso quiserem investigar o caso, é uma prerrogativa deles", avisou um interlocutor do Planalto. Os tucanos não estão dispostos apenas a defender-se. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o partido não se opõe a nenhum esclarecimento dos fatos na CPI, mas quer que antes sejam aprovados os 18 requerimentos que apresentou convocando ex-tesoureiros do PT. Para o o senador Sérgio Guerra (PE), não existem dúvidas de que o ex-governador mineiro não operacionalizou qualquer esquema ilegal de financiamento de campanha." Além disso, Minas Gerais não é assunto para a CPI dos Correios. Se formos analisar as campanhas estaduais, vamos examinar todas as campanhas com participação de Valério, Duda Mendonça e Delúbio Soares", endureceu Guerra. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) aponta a acareação de quinta como uma grande oportunidade para descobrir qual a verdadeira relação de Valério e Azeredo. Durante evento sobre ética na política, promovido pelo Instituto Mário Covas, ontem, em São Paulo, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB) criticou duramente o governo e o PT e procurou afirmar o PSDB como "partido muito diferente" dos petistas. "Caindo a máscara, pretendem pôr a mão no nosso ombro, dividindo conosco o fardo para declarar: 'Somos todos iguais'. Falso! Não somos coisa nenhuma! Rejeito o parentesco, rejeito a semelhança: o PSDB não aparelhou o Estado; o PSDB não promoveu uma rede de corrupção nas estatais; o PSDB não converteu a prática do caixa 2 num sistema, tampouco recorreu ao dinheiro público para criar uma malha de cooptação no Congresso." O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que o PSDB não vai convocar Azeredo para prestar depoimentos à comissão de ética do partido, como o PT fez com Delúbio Soares. "Cada pessoa tem sua história. O Azeredo é um homem honesto". (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)