Título: Mudanças nas regras facilitam aquisições
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2005, Valor Especial / CONSTRUÇÃO CIVIL, p. F4

Crédito imobiliário Resoluções do Conselho Monetário Nacional aprimoraram mecanismos de estímulo

Quem pretende obter crédito imobiliário neste último trimestre do ano vai surpreender-se com a flexibilização das regras nesta modalidade de financiamento. Recentemente, os bancos reduziram os juros do empréstimo tomado para a compra da casa própria, aumentaram o prazo de pagamento, alguns passaram a permitir que a família comprometa maior percentual da renda mensal nas parcelas do financiamento e outros até deixaram de cobrar correção monetária nos primeiros anos. Tudo para atrair clientes no fim do ano - período de maior movimento e lançamento de imóveis. Há um ano, o prazo médio de financiamento estipulado pelos bancos ficava entre 12 e 15 anos. Agora, chega a 20 anos. Antes, era financiado 50% do valor do imóvel. Hoje, são 75%. Também passou a ser permitido que a família reserve até 28% da renda mensal para as parcelas. No passado, o comprometimento máximo era de 20%. A flexibilização das regras, muitas das quais divulgadas neste semestre pelos bancos, viabiliza o desenho de financiamentos com taxa de juros fixa e até decrescente, desde que a inflação seja mantida sob controle nos próximos anos. "Para produtos de longo prazo, a estabilidade da economia é importante. Estimula um maior número de famílias a tomar crédito, fomentando ainda mais a indústria da construção", afirma José Pereira Gonçalves, superintendente técnico da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Taxa de juros e correção monetária são os principais destaques das recentes mudanças ocorridas no mercado de crédito imobiliário. Nos financiamentos acima de R$ 350 mil, o Bradesco passou a oferecer, a partir de setembro, taxa fixa de 1,25% ao mês nas operações até 10 anos. Não há mais atualização monetária. "O banco está antecipando o benefício do movimento de queda dos juros aos clientes", diz o superintendente executivo do departamento de empréstimos e financiamentos, Osmar Roncolato Pinho. Para os financiamentos entre R$ 40 mil e R$ 120 mil, que podem ser pagos até o prazo máximo de 18 anos, a taxa de juros cobrada é de 0,94% ao mês ou 12,67% ao ano. Aqui, a novidade é que a correção monetária não é aplicada nos três primeiros anos (36 meses). Encerrado o prazo, o investidor volta a pagar juros de 12% ao ano mais TR. O Banco Santander, por meio de uma pesquisa, notou que os clientes temem a variação dos indexadores dos planos de financiamento imobiliário no futuro. Para tranqüilizar as pessoas, desde 2000, o banco importou da Espanha a idéia de premiar os bons pagadores com juros decrescentes. Nos empréstimos para a compra de imóveis entre R$ 60 mil e R$ 350 mil, o cliente pode pagar juros anuais de 10,95% até o oitavo ano. Depois, até o final do financiamento, a taxa de juros cai para 8,95% ao ano. "É uma forma de aumentar o relacionamento com o cliente", diz o superintendente de crédito imobiliário, José Manoel Alvarez Lopez. Neste ano, o Santander lançou outro produto, inspirado em modelos chilenos. Nos imóveis de mais de R$ 350 mil, o cliente do Santander pode pagar juros fixos de 1,63% ao mês, sem correção monetária por 10 anos. Além disso, o produto permite uma carência de quatro meses antes de a pessoa iniciar o pagamento da primeira parcela. O tomador do crédito também pode escolher um mês (com maior concentração de contas, por exemplo) para não pagar a parcela do financiamento, que será distribuída entre os outros 11 meses. A estratégia de redução dos juros dos financiamentos foi anunciada pelo Itaú em agosto, quando o banco baixou os juros de 12% para 8% ao ano nos primeiros 36 meses do contrato. A medida vale para imóveis entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Também em agosto, o Banco Real e o Banco Sudameris, diminuíram os juros de 12% - para imóveis com valor de até 120 mil - para 9% ao ano, mais o índice de atualização da poupança (Taxa Referencial). O movimento de queda de juros em quase todas as instituições no segundo semestre tem uma explicação. Uma série de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicadas ao longo do ano, foi aprimorando os mecanismos de estímulo ao crédito imobiliário. Em 29 de julho a Resolução 3.304 fixou prazo de redução dos juros para, no mínimo, 36 meses nos financiamentos habitacionais. Depois desse prazo, a taxa de juros poderia ser reavaliada pelo banco. Com base nas novas regras, em agosto, alguns anunciaram a diminuição dos juros de crédito imobiliário por três anos. Em troca das melhores condições para o financiamento habitacional, o CMN determinou que, até o fim do ano, as novas operações de crédito imobiliário sejam 50% superiores em relação ao volume de 2004. A penalização - para as instituições que não atingirem a meta - será o recolhimento do dinheiro não aplicado no crédito imobiliário pelo BC, que terá remuneração de só 80% da variação da TR, menos do que a poupança paga ao correntista (TR mais 6% ao ano). Em setembro, o Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também divulgou uma medida para estimular o maior número de financiamentos imobiliários. A mudança vale apenas para as operações feitas nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Pela nova regra, o limite de financiamento passou de R$ 72 mil para R$ 80 mil para os trabalhadores com renda média familiar até R$ 3,9 mil. Há duas taxas de juros para esses financiamentos. Se o limite de renda for de até cinco salários mínimos (R$ 1,5 mil), a taxa é de 6% ao ano. Acima disso, os juros são de 8,16% ao ano. No financiamento de imóveis novos e na planta, avaliados entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, para famílias com renda de R$ 4.900, as taxa de juros para os financiamentos com recursos do FGTS passaram a ser de 10,16% ao ano. "Essa faixa inclui um grande número de famílias", diz a gerente nacional de Crédito Imobiliário da Caixa Econômica Federal, Mara Lúcia Sotério. (A.A.)