Título: Exportações de carros devem cair em 2006
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2005, Empresas &, p. B6
Veículos Montadoras estimam queda de 13% a 32% nas vendas externas
A Volkswagen do Brasil perdeu a exportação do modelo Gol para a China, uma negociação que renderia à montadora US$ 500 milhões. O contrato foi interrompido no meio em conseqüência de aumentos de preços que resultaram da valorização do real. As quatro grandes montadoras do país já se preparam para exportar menos em 2006. A redução de volumes varia de 13% a 32%. Com isso, a curva de crescimento na produção de veículos, constante nos três últimos anos, será interrompida em 2006. Os fabricantes prevêem para o próximo ano produção igual a este - 2,4 milhões de veículos - com queda nas exportações. Os embarques do Gol para a China começaram em 2003 ao ritmo de 50 mil unidades por ano. O contrato previa a exportação do modelo durante cinco anos, o que totalizaria os US$ 500 milhões. Os carros seguem da fábrica de Taubaté (SP) em kits desmontados e são montados na China. Já neste ano, o volume caiu à metade. O presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, disse ontem que os últimos embarques serão no final deste ano. O carro sairá do mercado chinês. Com esse e outros cancelamentos, as vendas externas da Volks, montadora que mais exporta, cairão de 264 mil veículos neste ano para 229, no próximo. A redução será maior se descontada a venda do modelo Fox para a Europa. Por se tratar de uma exportação para a matriz, na Alemanha, o preço desse veículo não pode ser elevado, o que está trazendo prejuízos para a filial brasileira. Segundo Maergner, excluindo a Europa, as exportações em 2006 vão cair 42%. O executivo está agora preocupado com o que vai acontecer no Irã, para onde a Volks do Brasil foi responsável não apenas pelo envio dos carros desmontados como também pela exportação da própria linha de montagem. Segundo ele, a empresa terá de elevar os preços também naquele país. A perda nas vendas externas chegará a 32% na Fiat. "Estamos todos sofrendo", disse o presidente do grupo italiano no Brasil, Cledorvino Belini. A montadora esperava conseguir exportar neste ano 120 mil veículos. Com os aumentos de preços, o volume total cairá para 104 mil. Belini calcula 70 mil unidades para 2006 por conta de cancelamentos em diversos mercados, incluindo o México um dos mais sensíveis aos reajustes de preços de carros brasileiros. Em 2006, a General Motors vai exportar 40 mil carros menos do que em 2005. A montadora esperava vender no exterior 240 mil veículos neste ano, mas não conseguirá passar de 200 mil. Para 2006, o presidente da empresa, Ray Young, calculou 160 mil unidades, o que reduzirá a participação das vendas externas de 37% para 25% no total da receita. O faturamento com exportação chega a US$ 1,3 bilhão na empresa. O novo presidente da Ford, Barry Engle, também prevê queda nas exportações em 2006. Neste ano ela obterá receita de US$ 1,1 bilhão com as vendas externas. O executivo não forneceu detalhes de volumes, mas disse que o maior problema é o mercado mexicano. Os presidentes das montadoras já calcularam a cotação do dólar para o próximo ano: R$ 2,45 (GM), R$ 2,55 (Volks), R$ 2,60 (Ford) e R$ 2,50 (Fiat). E todos prevêem a produção total de veículos em torno de 2,4 milhões de unidades. Para compensar as exportações, todos contam com crescimento mínimo de 5% do mercado interno e já preparam os lançamentos. Esses executivos culpam o governo por parte da perda da competitividade das montadoras no exterior. "Não podemos fazer muito para mudar a moeda, mas é preciso entender que a exportação nos dá escala para competir mundialmente", disse Engle, durante seminário da revista "Autodata". Durante o debate com fornecedores, depois da palestra em que alertou sobre a perda dos mercados externos, Maergner disse não entender "por que o governo está sempre punindo a indústria automobilística". "Não conhecemos nenhum outro governo que vá tão fundo em nossos bolsos", afirmou. O presidente da Volks estava particularmente irritado com recente decisão das autoridades alfandegárias de extinguir um redutor de alíquotas de importação de autopeças, que beneficiou as montadoras nos últimos quatro anos. Segundo ele, 30% dos empregos no setor dependem das exportações. Young disse que o Brasil não tem mais do que três ou quatro anos para corrigir a política industrial do setor. "O Brasil terá que brigar com os asiáticos."