Título: Serra vence resîstência mineira e reassume cargo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Política, p. A7

Os dois principais pré-candidatos tucanos ao Planalto, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin, atuaram nos bastidores para afastar o senador Eduardo Azeredo (MG) da presidência do partido. Com discrição, para não criar arestas com a seção mineira do PSDB, que pode ser decisiva na definição do nome que enfrentará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2006. Serra reassumirá o comando da sigla até 18 de novembro, quando o senador Tasso Jereissati (CE) será eleito para o cargo. Não foi uma decisão fácil. A seção mineira do PSDB, especialmente o governador Aécio Neves, opôs-se à substituição de Azeredo. Os mineiros argumentavam que seria uma espécie de condenação antecipada. Além disso, o afastamento igualaria o PSDB ao PT, na medida em que os dois partidos tiveram de afastar seus presidentes por envolvimento no esquema montado em Belo Horizonte pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Os paulistas argumentaram que o PSDB deveria se posicionar justamente para se diferenciar do PT, que demorou a afastar José Genoino (SP). Na época em que surgiu a denúncia de que a campanha à reeleição de Azeredo, em 1998, se beneficiara de recursos de caixa 2 do valerioduto, Alckmin e Serra defenderam o afastamento de Azeredo da presidência. Serra tinha mais dificuldades para operar, de vez que é o presidente de direito do PSDB. Alckmin operava, como agora, por meio do secretário de Governo, Arnaldo Madeira. Foi mais consultado do que protagonista. Mas ambos esbarraram na reação mineira e da bancada de senadores do partido. A nova denúncia surpreendeu os tucanos. Os mineiros mantiveram a antiga posição, mas entrou em cena o senador Tasso Jereissati, que presidirá o partido a partir de novembro, e mudou a posição dos senadores. A nova denúncia contra Azeredo ocorreu num momento em que Serra havia escrito um elaborado discurso sobre a ética, no qual rejeita qualquer semelhança entre o PSDB e o PT. Num evento sobre ética na política anteontem, sem mencionar Azeredo, Serra disse: "O PSDB não converteu a prática de caixa 2 num sistema, tampouco recorreu ao dinheiro público para criar uma máquina de cooptação no Congresso", disse. "A ética na política, hoje em dia, segue estranhos caminhos. Aprendi com Kant que um princípio só é bom se pode ser generalizado. Ninguém tem licença para ser aético. Os dias andam turvos. Há aqueles que pretendem ter licença especial para ser aéticos na suposição de que outros já o foram antes. Não querem generalizar o bem; preferem pedir licença para generalizar o mal". Alckmin também não admite comparações com a situação do PT e nega que a credibilidade do partido seja afetada como oposição, porque no caso do PT o esquema de corrupção envolve todo o governo e não só o caixa dois, como no PSDB. Sobre a eleição de 2006, os aliados do governador acreditam que, nesse momento, Alckmin estaria em situação mais tranqüila, por ter o maior potencial de crescimento e mais contato com Tasso Jereissati e Aécio Neves. Serra, de início, pensou em não reassumir a presidência do PSDB. As opções eram dois dos vice-presidentes: Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Leonel Pavan (SC). Por fim, os tucanos optaram pela volta do prefeito ao cargo. A convenção do partido para a escolha da nova direção ocorrerá em menos de um mês. Até lá, Serra toca burocraticamente o partido. Com sua volta ao posto, o PSDB quer dar a impressão de que Eduardo Azeredo não foi substituído. Apenas o presidente licenciado retornou ao cargo.