Título: Para Rocha Mattos, PT não teve interesse em apurar morte de Celso Daniel
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Política, p. A8

Em depoimento prestado ontem à CPI dos Bingos, o juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos disse que o PT não tinha interesse na apuração da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e que os petistas temiam que as investigações sobre o assassinato do prefeito, em 2002, trouxessem à tona o suposto esquema de corrupção montado na prefeitura. Ele declarou ainda não saber o destino das 42 fitas gravadas pela Polícia Federal, nas quais ouviu conversas de integrantes do PT, que demonstrariam um esquema montado pelo partido para encobrir crimes cometidos na Prefeitura de Santo André. "Determinei a destruição das fitas porque foram obtidas de forma ilegal. Não sei se todas foram, mas sei que algumas estão em poder da 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo." Segundo ele, a CPI pode requisitar as fitas e comprovar a autenticidade de seu depoimento. Mattos acusou o chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o ex-secretário da prefeitura de Santo André Klinger Luiz de Oliveira, de serem os articuladores do esquema. "O Gilberto Carvalho era o contato do José Dirceu. Era o Gilberto quem coordenava a parte jurídica do esquema. Nas fitas, não havia qualquer gravação direta com os irmãos de Celso Daniel, mas havia várias citações, eles estavam preocupados com as declarações dos irmãos do ex-prefeito." A preocupação era também, de acordo com ele, com declarações da namorada do ex-prefeito, Ivone Santana, que seria induzida por Klinger ou Gilberto Carvalho a se "comportar como uma viuvinha sofrida". O juiz foi um dos principais presos da megaoperação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal no fim de 2003, a Operação Anaconda. Foram presos juízes, delegados, empresários e advogados, acusados, entre outros crimes, de negociarem sentenças judiciais. Em dezembro de 2004, o Tribunal Regional Federal de São Paulo condenou Rocha Mattos a três anos de prisão por formação de quadrilha. Foi sua primeira condenação. Ele responde ainda a outras sete ações penais, sob acusação de falsidade ideológica, prevaricação, corrupção passiva, adulteração de placa de veículos, abuso de autoridade, denunciação caluniosa e peculato (apropriação de bem público por servidor). A eles são atribuídos atitudes como simulação de empréstimo para "esquentar" a origem de dinheiro, empréstimo de armas apreendidas em processos sob sua responsabilidade, liberação de mercadorias apreendidas, proferimento de sentença para beneficiar membro de sua suposta quadrilha e liberação de mercadorias apreendidas. Considerado preso problema, passou por prisões de São Paulo, Brasília e Alagoas. No interior paulista, foi para Tremembé, de onde enviou ao governador Geraldo Alckmin e ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, pedido de instauração de processo administrativo contra os diretores da cadeia. Ele acusava os funcionários de furtarem a comida enviada pelo governo e de servir "o que resta de pior da seleção de itens alimentícios" para os presos. (Caio Junqueira, com agências noticiosas)