Título: Depoimento de Carvalho causa apreensão no Planalto
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Política, p. A8

O governo e o PT querem evitar que o secretário particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, seja exposto em excesso à oposição durante a acareação com os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel. Os três estarão hoje frente à frente na CPI dos Bingos, classificada pelos próprios governistas de "CPI do fim do mundo", por ser composta majoritariamente por representantes do PFL e PSDB. Petistas ligados ao caso, como o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), foram chamados ontem ao Planalto e vão acompanhar de perto a acareação. O ministro da coordenação política, Jaques Wagner, entrou em contato com parlamentares da oposição para tentar distensionar o ambiente. Gilberto Carvalho tentou passar um ar de normalidade ontem. Despachou até às 18h. Negou que tenha abordado o assunto com Márcio Thomaz Bastos, com quem encontrou-se ao longo do dia. O clima no partido, contudo, é de apreensão. O depoimento do ex-juiz João Carlos da Rocha Mattos à CPI, ontem pela manhã, trouxe mais tensão aos petistas (ver matéria nesta página). Mattos afirmou que as supostas fitas obtidas de maneira clandestina mostrando a preocupação da cúpula do PT com as investigações não foram destruídas, como se supunha no início. "Temos que ir na Justiça Federal para descobrir, afinal de contas, qual o teor destas gravações", defendeu Greenhalgh ao sair do Planalto. Greenhalgh reconhece que tratou do assassinato do ex-prefeito de Santo André com Carvalho. Mas que só expressou a preocupação para que os irmãos do prefeito assassinado, especialmente João Francisco Daniel, que não gostavam da então namorada de Daniel, Ivone, nem do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, destilassem seus ressentimentos nos depoimentos ao Ministério Público e à Polícia Civil. "A CPI está reabrindo o caso por uma clara atitude política. O objetivo é desgastar o presidente Lula", criticou Greenhalgh. No Planalto, articuladores políticos admitem a delicadeza do momento, mas afirmam que não há espaço para o debate político. Respiraram aliviados com a proposta de que a acareação seja aberta, e não reservada, para não deixar margens ainda maiores para suposições. O governo, no entanto, está preparado para a guerra. Sabe que o senador Efraim Morais (PFL-PB) não dará descanso ao Executivo. E que o PSDB, ferido pelas denúncias contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), fará de tudo para retomar a possibilidade de bater no presidente Lula. O senador Tião Vianna (PT-AC), petista escalado para atuar na CPI dos Bingos em defesa do governo, minimizou ontem os efeitos do depoimento do juiz Rocha Mattos à comissão, mas reconheceu que ele fez uma pesada condenação ao chefe de gabinete da presidência da República, Gilberto Carvalho. "Eu não acredito no depoimento do juiz. Ele me pareceu bastante instável. Nós (o PT) precisamos, agora mais que nunca, que essas fitas apareçam", disse. Vianna negou que o PT tenha entrado em contato com oposicionistas para solicitar que a sessão transcorra num clima respeitoso. (Colaborou Maria Lúcia Delgado)