Título: Após lucros recordes, usinas vão amargar queda nos resultados
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Empresas &, p. B1

Siderurgia Aumento de custos, câmbio e preços derrubam os ganhos no terceiro trimestre

A euforia provocada pelos resultados das siderúrgicas na primeira metade do ano vai dar lugar à ressaca no terceiro e quarto trimestres. Analistas ouvidos pelo Valor apontam queda acentuada do lucro das usinas de julho a setembro em relação ao segundo trimestre. A comparação fica mais melancólica quando as estimativas são confrontadas com os resultados do terceiro trimestre de 2004, época em que o preço do aço atingiu patamares recordes. A desvalorização do dólar, o reajuste das matérias-primas, a queda de 35% no preço das placa e as fracas vendas internas compõem o cenário menos exuberante. Além disso, os estoques na Europa e em parte da Ásia ainda estão altos. Para o quarto trimestre, os analistas prevêem pouco alívio. Luiz Caetano, da Brascan Corretora, afirma que os reajustes anunciados por algumas empresas em setembro não serão suficientes para compensar a queda de preço e os descontos concedidos ao longo do ano. Já Pedro Galdi, da ABN Amro Real Corretora, diz que o dólar não deverá ganhar fôlego nos próximos meses, o que deve achatar os resultados no fim do ano. Apesar dos resultados modestos, a siderurgia brasileira terá o segundo melhor desempenho de sua história em 2005. As usinas devem fechar o ano com boa situação financeira, com caixa reforçado e com uma saudável relação dívida/lucro operacional, diz Caetano. Segundo estimativa da Brascan, o lucro conjunto no terceiro trimestre das principais siderúrgicas do país - Acesita, Belgo-Mineira, Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST), Gerdau e Usiminas - vai somar R$ 2,29 bilhões, ou 37,66% inferior que no mesmo período de 2004. Na mesma base de comparação, a receita deve cair dos R$ 15,5 bilhões para R$ 14,4 bilhões. No segundo trimestre, o faturamento das siderúrgicas atingiu R$ 16,02 bilhões. A situação não é exclusiva das brasileiras. Ontem, a U.S. Steel, maior siderúrgica dos Estados Unidos, anunciou lucro 70% menor, para US$ 107 milhões, ante o mesmo período do ano passado. Analistas apostam também em resultados fracos para outros grandes grupos, como ThyssenKrupp, Corus, Mittal e Arcelor, que reduziram a produção no trimestre. Os fabricantes de aços planos devem sofrer o maior baque. Com a demanda interna em queda e com a concorrência do aço importado, produtores como CSN e Usiminas buscaram o mercado externo para desovar material, mas enfrentaram forte concorrência. "No mercado interno, a CSN foi mais agressiva na concessão de descontos, para ganhar mercado, o que deve reduzir os ganhos", diz Galdi. Em seu relatório, Marcelo Aguiar, analista do Merrill Lynch, estima lucro de R$ 521 milhões para a CSN, contra R$ 401 milhões calculados pela Brascan. No ano passado, a usina fluminense teve ganho de R$ 694 milhões. Para a Usiminas, a estimativa da ABN é de R$ 660 milhões, ante os R$ 616 milhões da Brascan. No ano passado, a Usiminas lucrou R$ 1 bilhão. Para a exportadora CST, a previsão é de queda ainda mais drástica em relação aos R$ 358 milhões obtidos ano passado. As estimativas dos bancos variam de R$ 150 milhões a R$ 180 milhões de lucro. Para os aços longos, a situação é um pouco melhor, graças ao desempenho das subsidiárias da Belgo (Acindar) e da Gerdau (Gerdau Ameristeel) no exterior. Nos EUA, lembra Galdi, os estoques já estão regularizados e a economia está a pleno vapor. Ele estima lucro de R$ 593 milhões para Gerdau; Brascan prevê R$ 730 milhões. A Acesita deve ser prejudicada por causa do preço recorde do níquel, principal matéria-prima do aço inox. Para 2006, há a expectativa de aumento de preços das placas, por conta de eventual redução da produção chinesa e pelo aumento do preço do minério de ferro. Assim, os preços podem sair dos níveis de US$ 300 para US$ 330 a tonelada. Já os produtores de minério de ferro podem comemorar, pois o reajuste de 71,5% no início do ano vai refletir totalmente no terceiro e quarto trimestres. Brascan estima lucro de R$ 3,1 bilhões para a Vale do Rio Doce , 40% maior em relação ao de 2004. No ano, os ganhos devem chegar a R$ 11,2 bilhões, uma alta de 74%. Para o próximo ano, há a expectativa de lucros ainda maiores para Vale e Caemi, por conta do aumento estimado em até 20% no preço da commodity.