Título: Setor agropecuário dá apoio a Rodrigues, mas critica orçamento menor
Autor: Fernando Lopes, Cibelle Bouças e Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Agronegóciois, p. B12

Sitiado no governo pelos cortes no orçamento dos principais programas do Ministério da Agricultura, o ministro Roberto Rodrigues recebeu ontem forte apoio público de lideranças do setor rural e vários pedidos para seguir à frente da pasta. A instalação do Fórum de Competitividade da Indústria de Carnes, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento, virou um ato de apoio a Rodrigues. Pela primeira vez desde o início da crise da aftosa, ouviram-se algumas vozes do "Partido do Cooperativismo e do Agronegócio", grupo ao qual o ministro brinca ser "filiado" e representar no governo petista. Empresário como Rodrigues, o ministro Luiz Fernando Furlan isentou o colega de culpa sobre a atual crise sanitária. "Ele é competentíssimo, reconhecido internacionalmente. Por circunstância, foi colocado na ribalta de uma crise que em boa parte não foi ocasionada por ele", afirmou ao referir-se indiretamente aos cortes feitos pela equipe econômica no orçamento da pasta. "Sabemos que boa parte do sucesso das exportações brasileiras veio do agronegócio e da atuação do ministro Rodrigues e sua equipe". Sobre o orçamento, porém, ressalvou: "Isso tem que ser resolvido entre as partes [Rodrigues e equipe econômica]. Eu trato dos recursos do meu ministérios". Indagado se Rodrigues deveria sair do governo, Furlan disse: "Essa é uma decisão de foro pessoal". Crítico feroz do governo e de alguns membros da equipe de Rodrigues, o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Ronaldo Caiado (PFL-GO), usou de fina ironia para pedir apoio do setor para superar a "grave crise" da agropecuária. "Não podemos colar no ministro Rodrigues, no fim de sua gestão, a tarja de ter colhido a menor safra [113,5 milhões de toneladas de grãos] e ter sido responsável pela reativação da aftosa", afirmou. "Ele está duramente asfixiado pelo corte de 80% do orçamento. Vamos estender as mãos ao ministro e dar condições para ele fazer o que sabe", emendou o líder ruralista. O setor respondeu imediatamente aos apelos. O presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA), Zoé Silveira D'Ávila, defendeu a gestão e a permanência de Rodrigues, além de censurar a equipe econômica. "Temos que abrir os olhos para o ministério. Não se fazia concurso para fiscais há 20 anos. Agora foi feito", disse. "Precisa colocar na cabeça do ministro do Planejamento e da Fazenda como pensar o Brasil". O representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reiterou o apoio do setor privado ao ministro. "É importante este fórum dar as mãos ao ministro Rodrigues. Não é possível ele ficar de chapéu na mão pedindo verbas para um setor com o desempenho do agronegócio", desabafou o pecuarista goiano Antenor Nogueira. "Temos sofrido na pele o efeito desses cortes no orçamento, mas é preciso fazer um esforço para dar alento a ele". As indústrias também deram seu apoio à permanência de Rodrigues. "O ministro tem feito todos os esforços possíveis para lutar contra o câmbio valorizado e a concentração das exportações nas mãos de algumas poucas empresas do setor", lembrou José João Stival, presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo), que abastece 90% do mercado interno de carne bovina. "Ele não pode sair agora".