Título: Crédito pode superar previsões
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Finanças, p. C1

Bancos Desempenho do primeiro semestre sinaliza crescimento acima dos 17,9% de 2004

As operações de crédito devem crescer neste ano mais do que em 2004, superando a expectativa dos próprios bancos. A previsão é da agência internacional de avaliação de risco Fitch Ratings. "Ao final do primeiro semestre, o crédito já havia crescido 20% sobre junho de 2004 e tudo indica que o ritmo está sendo mantido. No segundo semestre, a demanda por crédito é sazonalmente até maior. E deve continuar crescendo em 2006", afirmou a diretora sênior da Fitch, Maria Rita Gonçalves. No ano passado, o crédito cresceu 17,9% para R$ 485,9 bilhões, segundo o Banco Central (BC). Neste ano, até agosto, dado mais recente disponível, a expansão foi de 11,6%. No entanto, com base nos balanços dos bancos, a Fitch calculou em 18,2% o crescimento do crédito nos bancos no período de um ano terminado em junho. Nos dez maiores bancos de varejo, a variação cravou os 20%. A carteira de pessoas físicas puxa a tendência. Nos dados consolidados do BC, o crédito para a pessoa física já cresceu 27,9% nos primeiros oito meses deste ano, praticamente o mesmo que em todo o ano passado (27%). Nos balanços analisados pela Fitch, novamente os dados são mais expressivos: no consolidado do sistema financeiro, o crédito para pessoas físicas cresceu 41,8% nos doze meses terminados em junho; e, nos dez maiores do varejo, 38,6%. "A economia está crescendo mais do que se esperava", justificou o diretor da Fitch, Pedro Gomes. Além disso, acrescentou Maria Rita, o crédito está sendo impulsionado pelos acordos dos bancos com as empresas de varejo e cessões de crédito e pelo aumento da bancarização. A tendência deverá ser mantida nos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados. O analista da Merrill Lynch, Paul Tucker, afirmou em relatório ontem divulgado esperar resultados fortes no terceiro trimestre em consequência da expansão do financiamento ao consumo. Ele prevê uma expansão do crédito entre 5% e 7% no terceiro trimestre sobre o trimestre anterior. O balanço do Banespa, ontem divulgado, confirma as previsões de Tucker. A carteira de crédito do banco atingiu R$ 10,547 bilhões no final de setembro, 27,5% maior do que no mesmo mês de 2004 e 6,3% acima de junho. Somente as operações com pessoas físicas, incluindo financiamento de veículos, cartão de crédito e crédito pessoal, tiveram um aumento de 28,6% em doze meses e de 12% sobre junho. No levantamento da Fitch, a expansão do crédito sustenta uma rentabilidade média anualizada sobre o patrimônio líquido de 23,4% ao final do primeiro semestre, acima dos 22% de dezembro e dos 20,2% de um ano antes. Nessa faixa média está o Unibanco, segundo Tucker. O analista espera que o banco tenha um lucro líquido de R$ 463 milhões no terceiro trimestre, com retorno de 21%. O banco deve divulgar o balanço no dia 10 de novembro, data não confirmada pela assessoria de imprensa. Já o Bradesco, na previsão da Merrill Lynch, deve lucrar R$ 1,497 bilhão no terceiro trimestre, garantindo retorno anualizado de 33%. O resultado sai dia 7. Antes dele, no dia 1º, o Itaú deve divulgar resultado, com lucro previsto em R$ 1,3 bilhão e retorno de 33%. O consenso mercado, reconhece Tucker, está um pouco acima. Já o Banco do Brasil anuncia o balanço no dia 14. Para o analista da Merrill Lynch, só as despesas com o reajuste da folha de salários pode reduzir os números do terceiro trimestre. A médio prazo, Maria Rita se preocupa com o que considera provisionamento insuficiente dos bancos pequenos e médios que cedem carteiras de crédito aos grandes. A legislação permite aos bancos que fazem cessão com coobrigação, isto é, dividendo o risco com o comprador, que provisionem apenas 50% da operação. A diretora sênior da Fitch considera isso insuficiente. Os balanços do primeiro semestre mostraram que a cessão de crédito tirou do balanço cerca de 20% das operações de crédito originadas pelos bancos pequenos e médios. Um desafio pela frente dos bancos, acrescentou, é explorar a base de clientes à qual tiveram acesso por meio dos acordos com redes de varejo, expandindo as vendas cruzadas. A esperada queda dos juros, disse, não deve afetar a receita com crédito, porque os spreads ainda são muito elevados. Mas, terá impacto na redução do retorno das carteiras de títulos e valores mobiliários. Tucker afirmou que a redução dos juros é positiva para os bancos, embora espere uma redução de margens a partir do próximo ano. Acredita, porém, que os bancos vão compensar isso com uma maior oferta de financiamento ao consumo, cujas taxas são mais elevadas, volumes maiores e menor inadimplência. A Fitch notou que o crescimento do crédito não prejudicou a qualidade das carteiras: as operações classificadas de D a H representavam 7,3% do total em junho, menos do que os 8% de igual mês de 2004.