Título: CPI convoca 41 pessoas
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2010, Cidades, p. 35

Caixa de Pandora

Comissão Parlamentar de Inquérito vai colher o depoimento de nomes como os dos ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Mas será tudo por escrito e as respostas só chegarão no fim de maio

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Codeplan, que há mais de três meses se arrasta na investigação de denúncias de corrupção no Executivo, ressurgiu ontem das cinzas. Mesmo com duas ausências, os integrantes presentes aprovaram o depoimento por escrito de 41 pessoas citadas no inquérito da Operação Caixa de Pandora. Entre os nomes que deverão prestar informações está o do ex-governador José Roberto Arruda, apontado como o mentor do suposto esquema de arrecadação e pagamento de propina no GDF. O ex-vice-governador Paulo Octávio e o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) também estão na lista, assim como ex-secretários de governo, deputados distritais e outras autoridades.

Não houve acordo para aprovar o depoimento presencial de atores importantes do escândalo que abalou os poderes Executivo e Legislativo da capital. O relator da CPI, Paulo Tadeu (PT), apresentou requerimento pedindo a presença de sete pessoas, mas os colegas não aceitaram. O motivo, segundo o relator, é que há pouco tempo(1) para ouvir os principais envolvidos e para analisar milhares de páginas de documentos. No entanto, Tadeu não descartou a possibilidade de convocar os suspeitos para depor pessoalmente, caso as perguntas encaminhadas não sejam respondidas. ¿Se eles não responderem os questionamentos ou entregarem respostas vazias, poderemos convocá-los a depor na Câmara¿, afirmou o relator.

Batista das Coopertativas(2) (PRP) endossou o discurso em prol das oitivas presencias, se os citados na Caixa de Pandora ignorem as perguntas a serem enviadas. Os técnicos da CPI terão 10 dias úteis, a contar de hoje, para elaborar as perguntas. Ao recebê-las, os 41 investigados terão 10 dias corridos para entregar as respostas por escrito. Ou seja, o questionário só voltará à CPI na última semana de maio. Os depoentes podem utilizar o direito legal de permanecer em silêncio ¿ ou nada escrever, no caso.

Rodízio Na reunião de ontem, Batista surpreendeu com a mudança de postura. O ex-governista fez comentários contudentes sobre as atividades não desempenhadas pela CPI e as saídas de alguns integrantes, como o distrital José Antônio Reguffe (PDT). ¿Todos viram que ele (Reguffe) pediu para entrar na CPI. Lamento que ele correu da comissão. É muito mais fácil ser pedra. Reguffe é uma pedra, mas ninguém aqui é vidraça¿, rechaçou. O deputado deverá ser o novo presidente da comissão. A decisão foi acordada entre o que restou da composição inicial da CPI: Paulo Tadeu, Raimundo Ribeiro (PSDB) e o próprio Batista.

O rodízio dos cinco membros da CPI é um agravante para o notório atraso dos trabalhos. Sem presidência definida desde a saída de Eliana Pedrosa (DEM) no início deste mês, a comissão teve outra baixa ontem. O deputado Paulo Roriz (DEM) entregou ofício comunicando a desistência ¿por orientação da executiva do partido¿. Desde segunda-feira havia uma especulação em torno da saída de Roriz. O entra e sai no grupo e a iminência de sepultar as investigações estariam desgastando a imagem já trincada da legenda, na opinião de caciques locais.

Na segunda quinzena do mês foi a vez de Reguffe abrir mão da vice-presidência da CPI. Ele foi indicado para integrar a comissão pelo PMDB. Como o partido não tinha apontado outro nome para preencher a vaga, o presidente da Câmara, Wilson Lima (PR), indicou Chico Leite (PT), o que gerou desentendimento entre os distritais. O próprio petista não sabia da indicação e disse que Lima não poderia impor a ele o cargo. Por isso, nem chegou a assumir o posto. Ao saber do ato do presidente, a líder do PMDB, Eurides Brito, requisitou a vaga para entregá-la a Aguinaldo de Jesus (PRB). Se até a próxima reunião, na quarta-feira, não for decidida a nova composição, os trabalhos deverão ser tocados com apenas três integrantes.

O relator Paulo Tadeu admitiu ontem que existe uma dificuldade na Casa para dar andamento às apurações das denúncias. ¿É uma situação inusitada. Um entra e sai fenomenal que só atrapalha os trabalhos.¿

1 - Validade A CPI da Codeplan tem prazo até 9 de junho, seis meses após ter sido criada, para votar o parecer a ser elaborado pelo relator, o deputado Paulo Tadeu. Se até lá as investigações não tiverem sido concluídas, o presidente poderá pedir a prorrogação dos trabalhos por mais 90 dias, que coincidirão com a campanha eleitoral.

2 - Requerimentos O deputado Batista das Cooperativas apresentou ontem dois requerimentos convocando o ex-ministro dos Esportes e pré-candidato do PT ao Buriti, Agnelo Queiroz (PT), e o ex- secretário de Ciência e Tecnologia Izalci Lucas (PR) para depor na CPI. O argumento de Batista é que o petista teria assistido aos vídeos gravados por Durval Barbosa antes de as filmagens virem a público com a Caixa de Pandora. Izalci poderia contribuir para as investigações porque, no entedimento do distrital, teria informações sobre os serviços de informática contratados pelo governo. Os pedidos ainda não foram apreciados.