Título: Governo fará campanha para ajudar a esclarecer produtores sobre mudanças
Autor: Lauro Veiga Filho
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2005, Valor Especial / RASTREABILIDADE, p. F3

A reunião de Bruxelas detonou uma verdadeira corrida para concluir a formatação e iniciar a implantação do sistema brasileiro de rastreabilidade, lastreado no Sisbov. A nova configuração deverá ser concluída em novembro pelo Comitê Técnico do Sisbov e pela Câmara Setorial da Pecuária de Corte, adianta Márcio Antônio Portocarrero, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Em dezembro, uma campanha vai anunciar e esclarecer os pecuaristas sobre as mudanças introduzidas no sistema, prossegue Portocarrero, para que em janeiro de 2006, atendendo a um dos compromissos assumidos perante a DG Sanco, já se inicie a instalação do novo Sisbov. "Tenho certeza de que não teremos dificuldades para implantar esse modelo", acredita o secretário. Considerado como o maior avanço do sistema para o secretário, somente propriedades previamente credenciadas pelo ministério estarão autorizadas a criar animais destinados à exportação, exigindo-se a identificação de todo o plantel, desde o nascimento ou desmame. A reposição do rebanho naquelas fazendas, no caso de recria e engorda, também deverá ser feita apenas de propriedades credenciadas para exportação, fechando o circuito. Haverá prazos para isso acontecer. O primeiro estágio, segundo o acerto firmado em Bruxelas, já foi definido: até o final de novembro, segundo a Instrução Normativa nº 6, apenas serão liberados para abate os animais que permanecerem na base de dados do Sisbov por pelo menos 90 dias. A partir de junho de 2008, pretende Portocarrero, todos os animais incluídos no sistema deverão ser rastreados desde o nascimento e/ou desmame, com o devido registro de todo seu histórico nutricional e sanitário. "Podemos prever que, em 2011, a oferta total de animais deverá estar identificada desde o nascimento". A entrada do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) no processo deverá ajudar a profissionalizar o mercado, já que o órgão responderá pela fiscalização e acreditação das certificadoras, de acordo com Portocarrero. Argentina, Chile e Uruguai, prossegue ele, já estão em fase de implantação de seus sistemas de rastreamento e os EUA "ainda estão discutindo como fazer isso". A seu ver, o Brasil tem chances de "sair na frente", já que é o único na região que dispõe de um sistema implantado, ainda que em fase de reformulação, e "30 milhões de animais inscritos no banco de dados" do Sisbov. Diretor técnico da ABCZ, Nelson Pineda entende que o sistema de identificação de animais é uma função de governo, já que envolveria um interesse público maior. Ele defende uma participação mais ativa do governo no processo. "Na Austrália e no Uruguai, os governos investiram na implantação do sistema de rastreabilidade, assumindo a distribuição de brincos. As certificadoras entram no processo apenas para assegurar que a identificação dos animais foi feita. No Brasil, pretendeu-se criar um cartório do boi", reclama. (L.V.F.)