Título: Cresce o emprego e diminui a renda
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2010, Cidades, p. 40

TRABALHO

Nos últimos 12 meses, a taxa de desemprego caiu de 17,2% para 14,1%. Mas, de fevereiro do ano passado a igual mês deste ano, o ganho real dos trabalhadores teve redução de 6,5%

A boa notícia é que o desemprego recuou no Distrito Federal nos últimos 12 meses. A má é o que rendimento dos trabalhadores encolheu no período. É o que mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O estudo revela que entre março de 2009 e igual mês de 2010 o percentual de desempregados caiu de 17,2% para 14,7% no DF. Frente a fevereiro deste ano, quando ficou em 14,1%, a taxa teve um movimento de alta. Ainda assim, trata-se do melhor resultado para o terceiro mês do ano desde 1992. Mas o rendimento real dos ocupados caiu de R$ 1.936 para R$ 1.841 mensais entre fevereiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, um decréscimo de 6,5%. De janeiro a fevereiro de 2010 a renda caiu igualmente, ficando 1,6% menor.

Na avaliação do Dieese, a queda nos ganhos está relacionada ao crescimento do volume de ocupados em dois setores da economia, no da construção civil e no de autônomos. O primeiro registrou criação de 13 mil novos postos de trabalho entre março do ano passado e março de 2010, o que significou crescimento de 23,6% no período. O segundo ganhou 22 mil novos integrantes no mesmo intervalo de tempo, o que representa incremento de 13,9% no contingente de trabalhadores sem patrão. ¿Os dois segmentos têm rendimentos um pouco mais baixos, o que pode explicar a tendência de queda¿, avalia Tiago Oliveira, economista do Dieese e um dos responsáveis pela Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal.

Destaque Para Tiago, o comportamento da construção civil é o destaque da última PED. O setor cresceu em duas frentes de comparação, anual e mensal. Além de ter avançado frente a 2009, apenas entre fevereiro e março deste ano, o segmento criou 5 mil postos de trabalho, registrando oscilação positiva de 7,9%. Os números refletem o boom recente do setor, que vive um momento de aquecimento no Brasil e no país, impulsionado por facilidades de crédito e programas governamentais de incentivo.

O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Júlio César Peres, afirmou que o movimento de alta na oferta de emprego detectado pela PED vinha sendo sentido pelo segmento. Ele diz ainda que o sindicato tenta reverter a questão do rendimento menor dos empregados frente aos de outros setores investindo em qualificação da mão de obra. ¿Há realmente deficiência na qualificação. Brasília, por exemplo, tem uma carência muito grande de carpinteiros¿, acrescenta.

O grande número de postos de trabalho criados nas empreiteiras e canteiros de obras nos últimos meses beneficiaram pessoas como Erasmo Pires de Sá, 25 anos, que recentemente conquistou vaga como auxiliar em uma empresa que fabrica e instala janelas e esquadrias no DF. Contratado há dois meses e meio, Erasmo está no período de 90 dias de teste previsto em lei, e aguarda, ansioso, o momento em que será efetivado. ¿Mais uns dias e vão assinar minha carteira. Fui indicado por um cunhado, antes trabalhava em uma sapataria¿, conta o rapaz.

Os dois segmentos têm rendimentos um pouco mais baixos, o que pode explicar a tendência de queda¿

Tiago Oliveira, economista do Dieese, referindo-se à oferta de vagas na construção civil e ao aumento do número de profissionais autônomos

Para saber mais Tendência nacional

A alta do desemprego em março frente a fevereiro no Distrito Federal acompanhou movimento registrado no país. Houve crescimento da taxa no período para as outras cinco regiões metropolitanas que fazem parte da PED. São Paulo teve o aumento mais significativo, com o índice variando de 12,2% para 13,1% no período. Na média nacional, a taxa de desemprego medida pelo Dieese subiu de 13% para 13,7%. Mesmo tendo crescido, o percentual é o menor registrado para o mês de março desde 1998.

Variação mensal

Jan/09 - 15,7%

Fev/09 - 16,3%

Mar/09 - 17,2%

Abr/09 - 17,5%

Mai/09 - 17%

Jun/09 - 16,4%

Jul/09 - 15,9%

Ago/09 - 15,5%

Set/09 - 15,3%

Out/09 - 15,1%

Nov/09 - 15,3%

Dez/09 - 14,5%

Jan/10 - 14,7%

Fev/10 - 14,1%

Mar/10 - 14,7%

Menos vagas em março é normal

Apesar do crescimento do desemprego no DF entre fevereiro e março, o Dieese considera positivos os resultados da última PED e diz que o DF pode fechar 2010 com o melhor resultado da série histórica da pesquisa, que começou a ser feita em 1992. Para isso, a taxa de desocupação deste ano teria que ficar abaixo de 14,2%, índice de desemprego registrado em Brasília e sua região metropolitana em 1994.

¿A alta do desemprego frente a fevereiro é sazonal, típica de março, e não deve ser encarada como tendência. Se o contexto de crescimento econômico permanecer, alcançar o menor desemprego já registrado pela PED ao fim do ano é perfeitamente possível¿, afirma Tiago Oliveira.

Ele lembrou que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta semana para decidir sobre o percentual da Selic, a taxa básica de juros da economia. ¿Caso haja um aumento nos juros, o aquecimento que estamos vendo na atividade econômica pode ser refreado¿, declarou.

Além de crescimento no desemprego, a PED apontou recuo de 0,6% no contingente de ocupados em março frente a fevereiro. A oscilação negativa foi puxada pelo decréscimo de postos na administração pública (-4,5%) e no setor de serviços (-1,2%). Na comparação anual, houve crescimento de 6,1% na ocupação, com 69 mil novos postos de trabalho.

A queda da ocupação na administração pública, que teve seu contingente de trabalhadores reduzido em 9 mil entre fevereiro e março deste ano, chamou a atenção dos técnicos do Dieese. De acordo com a instituição, uma análise detalhada revelou que a maioria dos trabalhadores desligados no período tinha cargos comissionados. Eles ocupavam postos tanto no Governo do DF quanto no governo federal. Para os responsáveis pela PED, ainda não é possível determinar o motivo do fenômeno de retração do emprego no segmento.

¿É necessário verificar se o padrão se repete nos próximos meses. Avaliar a situação apenas com base nos dados de março é precipitado¿, afirmou o economista Tiago Oliveira.

A última PED revelou que o emprego formal avançou no DF, mas os postos informais cresceram em ritmo mais acelerado. Enquanto a quantidade de trabalhadores celetistas cresceu de 469 mil para 473 mil entre fevereiro e março deste ano, registrando alta de 0,9%, a de ocupados sem carteira saltou de 99 mil para 101 mil no mesmo período, subindo 2%. Na comparação anual, os formais cresceram 7% frente a março de 2009 e os informais, 7,4%.