Título: Para Rodrigues, recursos não evitariam problema
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2005, Agronegócios, p. B12

Pressionado pelos ruralistas para arrancar recursos do governo ao setor, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou ontem que os recentes focos de febre aftosa diagnosticados em Mato Grosso do Sul teriam ocorrido mesmo que a Pasta não tivesse seu orçamento cortado. "Se o rebanho foi vacinado, mesmo com mais recursos, a aftosa teria surgido", disse, em audiência pública no Senado. "Menos recursos significa mais riscos. Mas os casos de Eldorado não têm nada a ver com a falta de recursos". Ainda assim, Rodrigues voltou a reclamar dos cortes no orçamento. "Seria hipócrita dizer que os recursos eram suficientes. Tem sido pouco todos os anos", afirmou. "Precisamos de mais recursos, indiscutivelmente". Ele citou a batalha travada dentro do governo para liberar R$ 1 bilhão à comercialização da safra passada. "Pedi em 11 de fevereiro. Ganhei R$ 400 milhões em agosto e só ontem vieram outros R$ 300 milhões", disse. "Tem havido atrasos. Não estou feliz nem satisfeito com isso". Na reunião, os senadores cobraram "responsabilidade" de Rodrigues e pediram que ele permaneça no cargo neste momento difícil do setor. "O senhor não tem o direito de renunciar. Tem obrigação de ficar", disse, em tomo de conselho, o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Bem-humorado, ele reagiu: "Não tenho amor ao cargo nem ambição política. Não sou candidato a nada. Recebi convites para disputar as eleições, mas resisti", disse. Em seguida, afirmou que pretende continuar à frente da Pasta. "Tenho amor ao agronegócio. Não vou jogar a toalha enquanto houver esperança". Rodrigues tem sofrido pressões da família e de amigos próximos a deixar o cargo. Avalia, porém, que sair em meio à crise, mancharia sua biografia. Por isso, resiste no cargo. Depende, entretanto, de apoio do setor e, sobretudo, da bancada ruralista. Os parlamentares hesitam em pedir sua cabeça, mas acham que o ministro se enfraqueceu muito desde sua posse. "Sem dinheiro para tocar a máquina fica difícil", admite a deputada Kátia Abreu (PFL-TO).