Título: Incertezas ainda seguram abates e derrubam preços
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2005, Agronegócios, p. B12
Independentemente da possibilidade do surgimento de focos de aftosa em São Paulo, o Estado já sente os reflexos do avanço da doença no Mato Grosso do Sul e das suspeitas de casos no Paraná. De acordo com analistas do setor, as incertezas sobre o avanço da aftosa e a dificuldade para exportar a produção paulista e para comprar gado de outras regiões por conta de barreiras sanitárias dificultam aos frigoríficos redefinir a capacidade de abate e derruba os preços do boi no atacado. Um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) aponta que São Paulo abate em média 35 mil cabeças de gado por dia, sendo que em torno de 20 mil cabeças são destinadas ao consumo interno. Desse volume processado, estima-se que apenas 11 mil cabeças sejam provenientes de rebanhos paulistas. O restante é comprado principalmente do Mato Grosso do Sul, segundo Sérgio de Zen, pesquisador do Cepea. "Hoje o Estado não tem oferta interna suficiente para manter a sua média de abates diários", disse Zen. Ele observou que São Paulo é a porta de saída de 55% das exportações brasileiras e, por isso, o Estado concentra a maior capacidade de processamento de carne bovina no país, mas pode ficar paralisado por conta da queda nas exportações. Zen diz que hoje as opções de compra de gado são Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, que têm frigoríficos habilitados à exportação e tenderão a abater nos próprios Estados. De acordo com o estudo do Cepea, os frigoríficos paulistas habilitados para exportar somam uma capacidade total de 20,9 mil cabeças por dia, mas que hoje não é utilizada em sua totalidade. Para Zen, a confirmação dos focos no Paraná comprometerá ainda mais o trabalho dos frigoríficos em São Paulo. Segundo fontes do setor, frigoríficos como Minerva (em José Bonifácio), Quatro Marcos (de Jales) e Frigoestrela (de Estrela D'Oeste) deram férias coletivas aos funcionários e outras indústrias reduziram a escala de abate. Por conta dessa redução, os preços do boi vivo recuaram em São paulo ontem.
São Paulo tem de 'importar' gado para manter a média diária de abates e o nível das exportações
De acordo com levantamento da Scot Consultoria, a arroba do boi gordo foi negociada a R$ 52 - queda de 11,8% desde o surgimento dos focos de aftosa. Fabiano Tito Rosa, analista da Scot, disse que pela primeira vez a arroba vendida no Estado atinge preço mais baixo que em outras praças. Segundo Rosa, a defasagem do preço do boi gordo em São Paulo é de 5,5% em relação a Goiás (R$ 55) e de 7,1% comparado com Minas Gerais (R$ 56). Na média do ano, até 10 de outubro (antes da aftosa), o preço de São Paulo ficou 6,6% acima do de Goiás e 3,2% acima do de Minais Gerais. No mercado futuro, os contratos de boi gordo de segunda posição eram negociados ontem na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) a R$ 54,02, em alta de 3,5% no dia, mas em queda de 8% desde o anúncio da aftosa. "Há muita carne barata saindo do Mato Grosso do Sul para São Paulo, o que ajuda a derrubar os preços. Além disso, os frigoríficos têm dificuldades para definir a escala de abates devido à incerteza sobre os novos focos", afirma o analista. No varejo, os preços também tendem a registrar quedas, confirmou João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). "Passados os primeiros dias onde decisões foram tomadas na emoção pelos governadores de alguns Estados, a razão vai se sobrepor à emoção. E poderemos ter até preços mais baixos."(Com Agência Brasil)