Título: Nanotecnologia vai melhorar desempenho
Autor: Denyse Godoy
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2005, Valor Especial / INDÚSTRIA DO PLÁSTICO, p. F3

Inovação Empresas como Braskem e Suzano investem na novíssima tecnologia para ganhar competitividade

A nanotecnologia é a novidade da indústria para o aprimoramento do plástico. Consiste em adicionar nanopartículas - que medem um bilhonésimo de metro - de uma ou mais substâncias para modificar determinadas características do material de acordo com a aplicação que se deseja dar a ele. O plástico pode ficar mais flexível, transparente, resistente a choques e deformações, ser barreira mais eficiente ao odor ou à umidade, impedir o alastramento de fogo. Tais possibilidades, que atualmente se convertem em realidade pela mistura de diferentes resinas plásticas com vários tipos de aditivos, podem ser multiplicadas com o emprego da novíssima tecnologia, que promete ainda ganhos em competitividade e uma melhor relação custo-benefício. Tendência mundial, a nanotecnologia progressivamente também vai conquistando as atenções dos fabricantes nacionais. "Essa é uma de nossas maiores apostas", confirma Claudio Marcondes, gerente de novos produtos da Suzano Petroquímica, que está entre as empresas pioneiras nas pesquisas com a nanotecnologia e prevê investir cerca de US$ 20 milhões nos próximos dois anos. Já no final de 2005, deve estar no mercado o resultado de seus primeiros esforços: resinas de polipropileno a serem usadas na produção de embalagens para alimentos e de peças automotivas. Outros segmentos nos quais o uso da nanotecnologia significaria um salto são os de plásticos para a construção civil e para fios e cabos. O segredo dos fabricantes está na maneira de incorporar as partículas às resinas. Mas, de acordo com estimativas do setor, somente por volta de 2010 essa técnica será aplicada em larga escala na criação de produtos. A Braskem também está investindo cerca de US$ 3,5 milhões em um projeto de desenvolvimento de resinas plásticas que devem ser lançadas em 2006, mas não revela quais serão as suas propriedades nem a utilização. "O emprego da nanotecnologia na fabricação do plástico possibilitará à indústria melhorar o desempenho do seu produto e, dessa forma, alcançar nichos de mercado que antes não conseguia", diz Luís Fernando Cassinelli, diretor de inovação e tecnologia da empresa. Os fabricantes muitas vezes usam a pesquisa para substituir materiais como papel, madeira, metal e vidro, ou mesmo outros tipos de plástico. "Se existe o desejo de substituir a lata de ervilhas, o plástico precisa ter características semelhantes às dela para cumprir bem sua função", explica Marcondes, da Suzano. Basta uma olhada nas prateleiras dos supermercados para perceber o tamanho desse movimento: os óleos vegetais são comercializados em recipientes plásticos, o sabão em pó passa a ser vendido em sacos plásticos, bebidas isotônicas agora vêm em garrafas de plástico rígido. A Suzano tem ainda um projeto de embalagens plásticas para o acondicionamento de calçados - que seria o adeus às tradicionais caixas de papelão. Sempre nasce das demandas do consumidor final o estímulo para a criação de plásticos de qualidade superior - daí a preocupação da indústria em monitorar constantemente o mercado para detectar ou, de preferência, antecipar as mudanças comportamentais da sociedade. "A vida moderna vai levando a novas necessidades. Pessoas que moram sozinhas, por exemplo, compram quantidades menores de produtos, o que provoca uma mudança no design de embalagens e, conseqüentemente, no plástico de que elas são feitas", comenta Eduardo Berkovitz, gerente comercial da Rio Polímeros (Riopol), criada há quatro anos por Unipar, Suzano, Petroquisa e BNDESPar e que está agora dando seus primeiros passos na produção de polietileno. "Máquinas mais rápidas, que produzem grandes volumes de embalagens ou de peças para veículos em um tempo a cada vez menor, pedem resinas de melhor performance", acrescenta José Ricardo Roriz Coelho, presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp). Não apenas de nanotecnologia são feitos os avanços do setor. Para o mesmo objetivo de melhorar as propriedades do material são repensados continuamente os processos de fabricação e as formulações das resinas e dos aditivos. A Petroquímica União, por meio de sua unidade de negócios Unilene, está agora aperfeiçoando sua resina hidrocarbônica de petróleo, tradicionalmente utilizada em tintas, adesivos e borracha, para entrar no mercado do plástico - notou-se que o aditivo confere ao PVC e ao EVA maior brilho e resistência ao atrito. "Somos o único fabricante dessa resina na América Latina. Estamos em fase de testes para desenvolver melhores aplicações para ela no caso dos plásticos", diz Roberto Arruda, gerente da Unilene. Parcerias com universidades têm ajudado as empresas na criação de produtos. "Podemos trabalhar em um maior número de projetos ao mesmo tempo, em áreas que não são exatamente a especialidade do nosso corpo técnico naquele momento", destaca Marcos Dal Pizzol, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da Innova, controlada pela Petrobras Energia.