Título: Mantega critica Levy e diz que sua visão é muito "financista"
Autor: Cláudia Schüffner e Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Brasil, p. A3

A divisão da equipe econômica ficou mais explícita ontem. O presidente do BNDES, Guido Mantega, criticou fortemente o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, homem forte da equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao contestar a defesa feita por Levy de uma maior convergência das taxas de juros no país. O presidente do BNDES interpretou o que chamou de "reflexões" de Levy como uma sugestão para aumentar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP ) - que está em 9,75% e é utilizada para corrigir os empréstimos de longo prazo do BNDES - para que ela se aproxime da taxa Selic. Segundo ele, o resultado da política sugerida por Levy seria um "choque anti-investimento no país" já que teria impacto no crédito habitacional e, portanto, na construção civil, além da agricultura e da própria indústria, que toma empréstimos no BNDES. "Você criaria um choque de desinvestimento, o que seria fatal para o PIB brasileiro, que teria uma queda relevante. Então, evidentemente isso é um equívoco", disse Mantega. Em seguida, o presidente do BNDES disse que "felizmente" o secretário do Tesouro Nacional tinha manifestado apenas idéias pessoais e não uma posição do governo. Questionado sobre a existência de divisão na equipe econômica relacionada ao crédito direcionado, que parecia flagrante diante da sua irritação com os comentários do secretário do Tesouro, Mantega negou peremptoriamente, sinalizando ter apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, evitou polemizar com Mantega, mas voltou a defender ontem que o atual nível da TJLP não é determinante para as decisões de investimento de longo prazo. Ele reafirmou ainda que a convergência entre as taxas de mercado e as taxas administradas, como a TJLP, "é um fato". Na sua opinião, o que os empresários levam em conta, ao definir projetos de longo prazo, são as perspectivas para a a economia e as previsões de comportamento da taxa no horizonte de longo prazo. Mantega tentou caracterizar a opinião de Levy como isolada e sem apoio do presidente Lula. "Não está dividida (a equipe econômica) porque quem decide é o presidente da República. E ele é favorável a aumentar o crédito habitacional com juros reduzidos, é favorável a que se aumente o crédito para agricultura e que se aumente o crédito para a indústria e para serviços. Ele quer que reduza o custo destas operações porque isso é fundamental para a competitividade das empresas", respondeu. Mantega defendeu a redução da TJLP e da Selic para incentivar investimentos no país e também contestou a afirmação de Levy de que os empresários não tomam como base a TJLP do momento para tomar decisões de investimento, já que olham mais o longo prazo. "O Joaquim Levy deu a opinião pessoal dele. Talvez tenha feito um raciocínio teórico ou alguma coisa do gênero, que eu estou aqui questionando. É uma visão financista que ele está demonstrando, falta uma visão da realidade. Ele não vê que essas medidas que está propondo vão na contracorrente daquilo que se deve fazer, que é estimular o investimento", disse. Para o presidente do BNDES, a manutenção da TJLP no atual patamar pode afetar os desembolsos do BNDES no quarto trimestre, lembrando que o banco cobra um "spread" além da TJLP, que eleva o custo. Mesmo assim, ele espera que os desembolsos do ano fiquem em R$ 50 bilhões. As afirmações de Levy foram feitas terça-feira, em seminário no BNDES. O fato de os comentários terem sido feitos na sede do banco irritaram Mantega. "Por acaso, quando eu fui para Brasília o Joaquim Levy veio aqui no banco e então, na minha casa, ele veio falar de TJLP", criticou.