Título: TAP fará auditoria em subsidiária da Varig
Autor: Cláudia Schüffner, Janaina Vilella, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2005, Brasil, p. A4
Últimas notícias - Empresas VEM poderá entrar como garantia de empréstimo de US$ 100 milhões
O presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, foi procurado ontem por Fernando Pinto, presidente da TAP, que reforçou o interesse da empresa portuguesa de participar do processo de reestruturação da companhia área brasileira. A TAP pode vir financiar a Varig e oferece US$ 100 milhões num primeiro momento. Para isso será dada como garantia a VEM, subsidiária de manutenção da aérea brasileira. A TAP deve iniciar uma auditoria na empresa nos próximos dias. Carneiro da Cunha fará parte de uma comitiva que embarca amanhã para Nova York. No grupo irão, também, representantes das empresas de leasing e técnicos do alto escalão do BNDES. A missão será a de convencer a Justiça americana de que a companhia brasileira tem condições de pagar as dívidas acumuladas da ordem de
US$ 72 milhões. Só assim os aviões da Varig não serão arrestados por credores americanos. Ontem, os técnicos do banco estiveram reunidos com os advogados da Varig, representantes dos credores e potenciais investidores acertando uma proposta a ser apresentada ao juiz Robert Drain, do Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York. Drain concedeu uma liminar prorrogando o prazo de pagamento às empresas de leasing até o dia 11 de novembro. Por isso, a Varig está correndo contra o relógio para levar solução para pagamento da dívida vencida aos credores que aumenta US$ 7,5 milhões por semana. "O juiz americano terá que ser convencido de que o comprometimento do BNDES é firme já que os credores estão pedindo seus aviões de volta e a Justiça de lá não trabalha com prazos elásticos. É uma situação difícil. Estamos lidando com limites que são factuais. O BNDES precisa gerar um documento que seja suficiente para o juiz americano manter a proteção à Varig contra os credores", disse Cunha ao Valor. A entrada do banco de fomento na operação de salvamento da Varig, por convocação do governo, mudou a qualidade da negociação com os credores nacionais e internacionais. A proposta apresentada pelo BNDES durante assembléia na quarta-feira abriu uma saída no curto prazo para salvar do arresto os aviões da companhia. A operação de retomada das aeronaves poderá ser "a ponta do iceberg" de um novo plano em elaboração para garantir que a empresa continue voando. Os técnicos do BNDES acreditam que resolvido a questão do arresto, a segunda etapa da recuperação financeira da companhia será avançar com o contencioso judicial do Plano Cruzado. A Varig já foi vitoriosa no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e agora terá julgamento definitivo no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter uma solução final. A equipe econômica do governo não vê com bons olhos a operação de socorro montada pelo banco para salvar a Varig. Na área econômica, prevalece a percepção de que a empresa aérea, por causa de seu elevado endividamento e da inexistência de ativos para oferecer como garantia de possíveis empréstimos, não tem salvação. Na quarta-feira, o BNDES informou, em comunicado oficial, a disposição de financiar possíveis compradores dos dois maiores ativos da Varig: a VarigLog (empresa de logística) e a VEM. Os problemas estruturais, no entanto, continuarão tornando imprevisível o futuro da companhia. Como, em tese, a operação montada pelo BNDES não significa o financiamento direto para a Varig, mas de empresas interessadas em seus ativos, o governo não se opôs a ela. Apesar disso, a decisão não foi bem-recebida no Ministério da Fazenda. "Se os interessados apresentarem garantias reais, a operação pode não representar risco para o BNDES. Ainda assim, não vemos com bons olhos esse tipo de operação", disse uma fonte. Um ministro disse ao Valor que os debates esbarram no fato de a Varig não possuir ativos para fazer frente a operações de financiamento com recursos públicos.