Título: A chave do tesouro
Autor: Angelo Pavini e Luciana Monteiro
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2005, EU &, p. D1

Apesar da queda da taxa básica de juros, títulos de renda fixa pré e pós-fixados se mantêm atrativos

A queda dos juros em 0,5 ponto percentual não tira o brilho das aplicações de renda fixa. O juro básico a 19% ao ano, para uma inflação em torno de 5,5%, representa um ganho real na casa dos 13,5% ao ano. Se descontado o imposto de renda - de 22,5% para aplicações de curto prazo - o retorno para quem conseguisse a taxa total seria de 14,71% brutos ou 9% reais ao ano além da inflação. Para uma aplicação de dois anos, com alíquota de 15%, o rendimento bruto após o imposto seria de 16,15%, com um ganho real de 11,6% ao ano. A queda acima do esperado da Selic neste mês terá ainda um efeito benéfico para as aplicações prefixadas, incluindo CDBs, papéis do tesouro e fundos de renda fixa. "Esses fundos devem dar um retorno maior que aparecerá na cota publicada hoje", diz Carlos Otero, diretor de renda fixa da Bradesco Asset Management. Quando a taxa cai, o preço do papel pré antigo sobe no mercado porque cresce a procura por eles por conta do juro maior. Uma forma de aproveitar esses juros ainda altos é a compra direta de papéis do Tesouro. Com isso, o investidor escapa das taxas de administração dos fundos, que podem chegar a 4% ao ano para valores abaixo de R$ 10 mil. Cadastrando-se em uma corretora, é possível aplicar a partir de R$ 100,00 em títulos no sistema de negociação via internet Tesouro Direto. Nele pode-se comprar por exemplo Letras Financeiras do Tesouro (LFT), papéis pós-fixados que pagam a variação da Selic, e que estão com um prêmio (retorno extra) interessante, diz Ivan Dumont Silva, diretor tesoureiro do Banco Alfa. "O Tesouro está emitindo LFTs para 2008 e 2009, com prêmios em torno de 0,30% a 0,40% além da Selic." Para Luciana Dória, economista da HSBC Corretora, os títulos pós-fixados permanecem atrativos, mas vão perdendo o brilho à medida que a taxa de juros cair - cenário traçado pela maioria dos analistas de mercado. Pelas projeções da instituição, a Selic deve fechar este ano em 18,00%. Já para 2006, a perspectiva para dezembro é de 16,00%. Vale ressaltar, entretanto, que esses números são preliminares e serão atualizados. Diante da expectativa de novos cortes da taxa básica de juros, os papéis prefixados (LTNs) permanecem interessantes. Até a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado havia colocado no preço dos títulos um corte de 0,25 ponto percentual, diz Luciana. Como a redução foi maior que a projetada sobre o rendimento da LTNs, houve ganhos. As LTNs com vencimento em janeiro de 2006, por exemplo, em 25 de maio, a taxa de compra era de 19,87%. Na quarta-feira, a taxa era de 18,98%. Mas é preciso um pouco mais de cuidado com relação às LTNs, alerta Silva, do Alfa, lembrando que é muito difícil acertar o comportamento futuro dos juros. Caso o BC reduza o ritmo de queda, o investidor pode sair perdendo em relação à LFT. Ontem, o Tesouro vendeu LTNs para 1º de julho de 2006 a 18,05% e para 1º de abril de 2007 a 17,78%. Papéis mais longos, como as NTN-Fs, prefixadas, são ainda mais arriscadas, diz Silva. "Esses papéis para 2010 pagam 16,30% ao ano, mas são mais procurados por estrangeiros, que podem ganhar fazendo arbitragem com emissões em reais no exterior", diz Silva. Já Marcelo Giorgi, operador de mercado da corretora do Banco Real, diz que tem indicado papéis prefixados por acreditar em oportunidade de ganhos maiores. Segundo ele, o mercado projeta juros médios de 17,60% daqui até janeiro de 2007. Pelas estimativas do banco, no entanto, o juro será de 17% no mesmo período. "Por isso, tenho recomendado pré." Com relação aos papéis atrelados a índices de preços, o cenário de maior estabilidade econômica deixa esses títulos pouco interessantes tanto no curto como no longo prazo, diz Luciana, do HSBC. Mesmo se houver um aumento do risco-Brasil, o fluxo da balança comercial brasileira continua positivo e os analistas dizem que não deve haver fortes pressões sobre o dólar. Com isso, a inflação estaria relativamente sob controle. Para ela, as NTN-Cs (indexadas ao IGP-M) e as NTN-Bs (atreladas ao IPCA) são recomendadas apenas para os investidores que buscam proteção. Os números do Tesouro Direto mostram que o volume de papéis vendidos em setembro foi de R$ 50,01 milhões - o sexto maior desde que a plataforma foi criada em janeiro de 2003. Foram cadastrados 1.516 novos investidores e o volume médio por operação no mês foi de R$ 10,6 mil. Do total de vendas no mês, as LTNs representaram 61,88%. As LFTs responderam por 21,92%. Esse perfil mostra que o investidor já se preparava para a queda dos juros, preferindo os títulos prefixados.