Título: Vale do Rio Doce lucra ao oferecer soluções integradas para os clientes
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2005, Valor Especial / LOGÍSTICA E TRANSPORTES, p. G2

Todo dia um trem da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), sai de São Paulo rumo a Salvador carregado com motores, transmissões, estampados e rodas para abastecer a fábrica da Ford em Camaçari (BA). O serviço, batizado de "trem expresso", faz parte de um negócio logístico novo para a Vale, considerado prioritário: a intermodalidade. O conceito consiste em atender ao cliente da origem ao destino, ou "porta-a-porta", valendo-se da ferrovia e de caminhões, nas pontas, para o transporte de cargas em contêineres, de maior valor agregado. Em alguns casos, o serviço intermodal também usa a cabotagem, a navegação na costa brasileira. "A intermodalidade é uma das prioridades da Vale juntamente com a expansão de ferrovias e portos", diz Guilherme Laager, diretor de logística da Vale. Essa estratégia apóia-se no aumento da demanda por transporte de minério de ferro próprio e de carga geral de terceiros. Para atender à busca crescente por fretes e soluções logísticas integradas, a Vale deve investir este ano R$ 2,1 bilhões em obras de infra-estrutura e compra de vagões e locomotivas. Serão 5.606 vagões e 123 locomotivas a serem adquiridas em 2005. Entre 2001 e 2004, a movimentação de carga geral cresceu 38% nas ferrovias controladas pela Vale (a FCA, a Estrada de Ferro Vitória a Minas, EFVM; e a Estrada de Ferro Carajás, EFC), acima do aumento de 26% verificado, no período, no transporte de minério de ferro. "Controlamos 30% da malha ferroviária do país, mas somos responsáveis por 70% da produção ferroviária brasileira", diz Laager. Segundo ele, a carteira de usuários dos serviços logísticos da mineradora cresceu 22% desde 2001, atingindo 1.570 clientes no fim de 2004. De janeiro a junho deste ano, a receita da Vale com o transporte de carga geral atingiu R$ 1,2 bilhão, com alta de 20% sobre igual período de 2004. No fechamento do ano passado, a Vale obteve receita de R$ 2,2 bilhões com logística, cerca de 25% mais do que em 2003. O potencial de crescimento na prestação de serviços logísticos para setores como siderurgia, construção, agricultura e indústria automotiva, entre outros, leva a Vale a planejar a expansão de sua malha ferroviária e de terminais portuários por ela controlados, como o Terminal de Vila Velha (TVV), em Vitória (ES), que movimenta contêineres. Nos planos da mineradora está a construção de trechos da EFVM com pista tripla e a duplicação de trechos da malha de Carajás. Hoje, a carga geral representa cerca de 22% do volume total transportado pelas ferrovias operadas pela Vale. No primeiro semestre deste ano, a CVRD transportou 70,8 bilhões de Toneladas por Quilômetro Útil (TKU), 8,4% acima de igual período de 2004. Em 2004, a CVRD transportou 139 bilhões de TKU, volume 13% maior do que 2003. A demanda crescente por serviços logísticos intermodais também é determinante para que a Vale aposte em soluções como a do "trem expresso", usado pela Ford e por outras empresas. Este serviço tem duas rotas principais: São Paulo-Salvador e São Paulo-Centro Oeste, muito usada para o transporte de produtos de higiene e limpeza, alimentos e bebidas. A Garoto, em Vitória (ES), é abastecida por leite em pó transportado desde Goiás pelo "trem expresso" da Vale. A intermodalidade também levou a mineradora a investir em centros de distribuição. No primeiro semestre deste ano, a Vale iniciou a operação do Terminal Multimodal de Camaçari (Tercam), projeto que faz parte da estratégia da empresa de ter postos concentradores de cargas ao longo de seus corredores. A Vale tem também novo projeto para ampliar a movimentação de soja para a Bunge em 250 mil toneladas por ano e o desenvolvimento de operações "porta-a-porta" para o transporte de arroz, via a controlada Docenave, que atua na navegação de cabotagem, de Rio Grande (RS) até o Nordeste.