Título: Planalto avalia que STF adia crise, mas aceita direito de defesa
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Política, p. A8

O desejo de uma conclusão rápida da crise política não pode significar um rito sumário de cassação. A avaliação é de ministros políticos ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificaram como "parte dos trâmites processuais" a decisão de ontem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau, que na prática anula a sessão do Conselho de Ética que aprovou o relatório de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil. O Planalto sabe que, quanto maior a demora na cassação do petista, tanto mais longa e arrastada será a agonia política que paralisa Executivo e Legislativo. "Mas direito de defesa é sagrado. Hoje é Dirceu, amanhã pode ser outra pessoa", resumem pessoas próximas ao presidente. Apesar da longa fila de parlamentares ameaçados de cassação, o Planalto sabe que Dirceu é um troféu valioso, especialmente para a oposição. Como resumiu a ex-líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), cassar o ex-chefe da Casa Civil é uma fatura que está sendo debitada na conta do Planalto. "É muito triste que a política venha a produzir episódios desta natureza. O Ibsen (Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara, cassado em 1993), também era emblemático. Hoje, vemos que a cassação foi um equívoco". O governo e o PT acabam, na avaliação de interlocutores do Executivo, vivendo uma situação contraditória. Se por um lado virariam uma página importante de suas histórias caso Dirceu venha a perder seus direitos políticos, por outro não podem simplesmente deletar o que o parlamentar paulista significa para a trajetória de ambos. "É um caso doloroso, sem sombra de dúvidas". Para o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), do ponto de vista jurídico, a decisão do ministro do STF está corretíssima. "Judiciário é para isso mesmo. Não foi uma ingerência de poderes e sim, uma garantia do direito de defesa". Os petistas, contudo, sabem que politicamente, há um adiamento do problema. "É complicado, vão ter que fazer um novo relatório, conceder um novo pedidos de vistas. Tudo isso só prolonga a batalha", reconhece outro petista. Um líder com acesso ao Planalto não acredita que a remarcação da sessão no Conselho de Ética da Câmara signifique uma mudança no resultado final da votação de ontem. Para ele, Dirceu acerta em alguns recursos, perde em outras instâncias, mas está no seu papel de lutar até o fim pelo mandato. Uma luta, segundo o líder governista, que não terá bom êxito no final. "Prolonga o debate, é ruim para o Parlamento, é ruim para o Executivo. Mas o placar expressivo de ontem - 13 votos a 1 - expressa com clareza o sentimento existente entre os deputados", resumiu o aliado do Planalto.