Título: Delúbio envolve Eunício em valerioduto
Autor: Thiago Vitale Jayme e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Política, p. A10

Crise Ex-tesoureiro do PT diz que pediu a Marcos Valério para repassar dinheiro a ex-ministro das Comunicações

A acareação entre o empresário Marcos Valério de Souza, a ex-diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares com sacadores de dinheiro das contas do Banco Rural jogou ontem mais um nome no escândalo do valerioduto. Durante pergunta sobre repasses feitos ao PMDB, Delúbio apontou para o ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira, hoje deputado pelo PMDB do Ceará, como um dos beneficiários dos repasses feitos pelo empresário. Quando fez a acusação, Delúbio respondia a uma pergunta do deputado João Correia (PMDB-AC). Em documento enviado à CPI do Mensalão há um mês, o ex-tesoureiro havia listado os partidos aos quais autorizou o repasse de dinheiro por meio de Marcos Valério. No texto, citou "parte do PMDB". Na acareação de ontem, Correia perguntou a que setor do partido Delúbio se referia. "O dinheiro foi repassado ao deputado José Borba (PR)", disse o ex-tesoureiro petista. "Mas ele não era líder na época. Quem ele representava?", reiterou Correia. "Ele foi designado pelo líder na ocasião, deputado Eunício Oliveira", completou Delúbio. Depois de fazer a afirmação, o ex-tesoureiro tentou mudar a própria versão e retirar o nome do ex-ministro das Comunicações. A CPI já tinha informações, no entanto, da ida de Cláudia Luiza de Morais, ex-assessora de Eunício, à agência do Rural em Brasília nas mesmas datas das visitas de Simone Vasconcelos ao mesmo banco. Eunício negou qualquer envolvimento no esquema. Informou que Cláudia trabalhou em seu gabinete a pedido do embaixador do Brasil em Portugal, Paes de Andrade, que também é seu sogro. Disse estar aberto a participar de qualquer acareação com os envolvidos no esquema. Em declarações à imprensa, Cláudia justificou a ida ao shopping para consultas dentárias. Borba, apontado por Valério como beneficiário de R$ 2,1 milhões, renunciou ao mandato para não sofrer processo de cassação. A acareação serviu de ferramenta para a oposição iniciar uma ofensiva contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acuados pelas recentes denúncias contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que recebeu R$ 700 mil de Marcos Valério para pagar dívida de campanha, deputados tucanos e pefelistas usaram uma informação conhecida da CPI como se fosse novidade para pedir o impeachment do presidente Lula. Costa Neto, Marcos Valério e Simone confirmaram repasses para pagamentos de dívidas da campanha do presidente no segundo turno da eleição em 2002. Já haviam dito a mesma história quando foram à CPI em outras oportunidades. Ontem, diante do possível esfriamento da crise e das recentes denúncias contra Azeredo, a oposição deu mais importância às declarações. "Os três dizem que mandaram dinheiro para o caixa 2 do presidente. Para um deputado, se ele usa caixa 2, nós mandamos para o Conselho de Ética e pedimos a sua cassação. E para o presidente, não? O caixa 2 era para a campanha dele. Ele era o responsável pelas contas", bradou o deputado Moroni Torgan (PFL-CE). "Estou buscando o apoio dos partidos para pedirmos o impeachment do presidente Lula", afirmou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), sub-relatora da CPI do Mensalão. "Por que o presidente não pode ser cassado como os deputados? Ele é o principal alvo das CPIs. Afinal, o caixa 2 era para a campanha dele", completou a parlamentar. A tucana tentou justificar a ofensiva contra Lula. "Não tínhamos essa informação de forma tão clara como tivemos hoje." A acareação também complicou a situação do ex-deputado Valdemar Costa Neto e do PL. Colocado à frente de Valério, Simone e Delúbio, o presidente do PL reafirmou o recebimento de R$ 6,5 milhões do esquema. Valério manteve sua versão anterior, de repasse de R$ 10,8 milhões, confirmada pelo ex-tesoureiro do PT. A ex-diretora da SMP&B confirmou a entrega dos valores ao ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas. "Sabemos quem está mentindo. Valério diz que pagou. Delúbio confirma que deu a ordem. E a Simone diz que entregou. São três palavras contra uma", disse Zulaiê. A acareação transcorreu com certa tranqüilidade. Diferente das acareações da CPI dos Bingos entre envolvidos no Caso Celso Daniel e entre Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira, não houve bate-boca entre os acareados. À vontade ao responder às perguntas dos parlamentares, Valério chegou a perder a paciência com os políticos. Perguntado sobre quem havia indicado a corretora Guaranhuns para receber dinheiro, Valério afirmou que os integrantes da CPI deveriam pedir a quebra do sigilo telefônico para provar a relação de Lamas com a corretora. E completou: "Perguntem a ele quem repassou o dinheiro. Quantas vezes ele ligou para a Guaranhuns? Ora, não vou ensinar a vocês como investigar". O constrangimento foi geral. Nenhum deputado se irritou com a declaração. Apenas o presidente da CPI, Amir Lando, pediu timidamente para retirar a frase das notas taquigráficas.