Título: Fundos e BNDES abrem processo de venda da Brasil Ferrovias
Autor: Catherine Vieira, Francisco Góes e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Empresas &, p. B1

Logística Previ e Funcef contratam Angra Partners para fazer a operação e buscar candidatos

Menos de seis meses após o anúncio da reestruturação operacional e financeira, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e a Funcef, fundação dos empregados da Caixa Econômica Federal, decidiram dar início ao processo de venda de suas participações na Nova Brasil Ferrovias, que esperam concluir até maio de 2006. Para isso, acabam de contratar a Angra Partners, que já atuou no recente processo de reestruturação dos ativos da empresa. Os fundos possuem cerca de 25%, cada um, do capital da Brasil Ferrovias e o terceiro sócio, o BNDES, com 43,6%, também deve entrar na operação de venda ddo controle da concessionária, que opera duas ferrovias - Ferronorte e Ferroban. O banco fará sua venda diretamente, sem a assessoria da Angra. Ainda não foi definido se as participações serão vendidas integral ou parcialmente. Também são sócios e signatários do acordo de acionistas a Constran, do grupo Itamarati, e um fundo de investimento com gestão do JP Morgan.

Segundo apurou o Valor, alguns investidores já teriam demonstrado interesse no ativo. Entre eles, um grupo americano que já investiu em ferrovias na Bolívia, além de empresas do setor de logística, como a ALL e a MRS Logística, além da Vale do Rio Doce (com menos chances, pois poderia enfrentar impedimento do Cade) e da japonesa Mitsui. "Já havia interessados antes da reestruturação, mas os sócios optaram por fazer primeiro o processo e tentar recuperar as projeções de geração de caixa", disse uma fonte envolvida na operação. "Avaliamos internamente e decidimos pela aprovação do andamento do processo", disse Guilherme Lacerda, presidente da Funcef. Segundo o diretor de investimentos da Previ, Luiz Aguiar, a Angra atuará como num processo normal de fusões e aquisições. "Eles vão nos ajudar a buscar interessados e organizar as propostas e a estudar o melhor modelo para a venda. Acreditamos que esse processo possa ser concluído por volta de maio", disse Aguiar. Segundo o executivo, poderá haver uma venda parcial ou total das participações, dependendo das propostas feitas. "Esse modelo ainda não foi definido, pode ser que ainda continuemos com alguma participação na empresa ou não", afirmou. Ele disse que é importante lembrar que as regras foram definidas no momento da reestruturação dos ativos, quando Previ, Funcef e BNDES acertaram um aporte de mais de R$ 1 bilhão na empresa. Entre as condições acertadas, lembrou, está a abertura de capital da empresa no Novo Mercado em até quatro anos. "Esse compromisso terá de ser assumido pelos novos parceiros", disse o diretor da Previ. Uma fonte próxima da MRS disse que a empresa já foi sondada sobre interesse no negócio. Para a ferrovia, que atuam em Minas, Rio e São Paulo faria bastante sentido. É também de bitola larga e seus trilhos cruzam os da Brasil Ferrovias em Campinas, Jundiaí e Santos. Além disso, as cargas serão complementares - a MRS faz minérios, aço, cimento, contêineres e a Brasil Ferrovias basicamente grãos. A fonte comentou ainda que será preciso um amplo trabalho de análise dos números financeiros da Brasil Ferrovias. "Não são conhecidos", afirmou. E lembrou que há muitas dívidas com fornecedores para serem acertadas. Segundo informações, o "book" de venda dos ativos da Brasil Ferrovias estarão disponíveis aos candidatos no fim de novembro. "Está aberta a temporada de caça", disse uma fonte do BNDES. Segundo ela, o banco procura um sócio para a ferrovia, e aguarda propostas para analisá-las, mas não há preço fixado e não está claro se o BNDES irá se desfazer de toda a sua participação, quase 44% do capital da holding, que é dona de 99% da Ferronorte e 62% da Ferroban. Informou ainda que de certa maneira o BNDES está "casado com a Brasil Ferrovias para sempre" em função dos créditos que o banco tem com a empresa. A venda vem sendo tratada pelas áreas de logística e de mercado de capitais do banco. O interesse pela empresa é explicado pelo seu potencial de crescimento futuro após um longo processo de reestruturação concluído em maio com aporte de capital superior a R$ 1 bilhão. O BNDES, que tinha créditos de R$ 1,5 bilhão com empresa, converteu R$ 265 milhões em capital e concedeu um novo empréstimo de R$ 265 milhões, além de pôr mais R$ 150 milhões em capital novo. Como resultado da reestruturação, criaram-se duas holdings: Nova Brasil Ferrovias e a Novoeste Brasil, esta responsável pelo corredor de bitola estreita da antiga Novoeste e parte da Ferroban. O BNDES só tem ações na Novoeste. Os fundos começaram a investir na Brasil Ferrovias em 1998. A Previ aplicou cerca de R$ 480 milhões em valores atualizados. A Funcef aportou bem mais que esse valor. O BNDES informou, à época, que a reestruturação tinha por objetivo o aumento do escoamento das safras e a expansão da fronteira agrícola da região centro-oeste. Os fundos também devem incluir no processo de venda também o controle da Novoeste Brasil.