Título: BNDES não fará milagre para a Varig, diz Mantega
Autor: Cláudia Schüffner e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Banco autorizou a criação de um fundo de investimento e uma SPE

O presidente do BNDES, Guido Mantega, descartou ontem qualquer possibilidade de o banco "fazer milagres" ou ser "um pronto-socorro" para a Varig, que está em processo de recuperação judicial e sob ameaça de arresto de aviões nos Estados Unidos. "Vamos ajudar, inclusive dando idéias, mas a responsabilidade não é nossa. É dos atuais administradores. Não cabe a nós tomar decisões", disse. Ele afirmou que o banco estatal está disposto a colaborar no processo de recuperação da companhia aérea e que já autorizou a área técnica a criar um fundo de investimentos e uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) que têm como objetivo a aquisição de duas subsidiárias da Varig, a VarigLog (de logística) e a VEM (de manutenção), com capital inicial de aproximadamente US$ 70 milhões. Essas providências precisam ser tomadas até 9 de novembro, se não os aviões da companhia serão arrestados por decisão da Justiça americana. "O empenho do BNDES agora é para constituição dessa SPE, e o chamamento dos investidores. Há vários investidores interessados e o papel do BNDES é financiar os investidores e não a Varig", ressaltou, evitando citar o nome dos interessados. Mas Mantega procurou deixar claro que o BNDES não defende nenhum acerto de contas da Varig com a União, como ficou entendido na quarta-feira na assembléia de credores que teve a presença do assessor da presidência do BNDES, Sérgio Varela . "Falar de encontro de contas é equivocado porque é como se você pudesse trocar uma coisa pela outra, e não se pode fazer isso. Juridicamente isso é impossível. Então você tem que prosseguir com as duas ações. A Varig vai prosseguir com sua iniciativa até o fim, e a esperança dela é conseguir vencer essa ação e aí ela vai receber um dinheiro e quitar uma parte das dívidas. E a União tem por obrigação receber as suas dívidas", explicou o presidente do BNDES. A única coisa que o governo poderia fazer para acelerar o andamento das ações na Justiça - tanto a da Varig pedindo ressarcimento pelas perdas trazidas pelo congelamento de tarifas no Plano Cruzado quanto as da União cobrando dívidas fiscais, previdenciárias e trabalhistas - segundo Mantega, é pedir urgência ao Judiciário. "O que se pode é tentar apressar as etapas. Como há um interesse do governo, há um interesse eu diria até nacional, (já que) todo mundo quer que a Varig seja salva, há um empenho para que essas coisas sejam apressadas. Mas sem que os direitos sejam atropelados", explicou o presidente do BNDES. "É preciso o cumprimento de todas as tramitações", enfatizou, dizendo que pessoalmente torce para que se consiga agilizar os processos. Já o presidente da empresa aérea, Omar Carneiro da Cunha, disse ontem que três investidores apresentaram propostas oficiais de compra da VarigLog e da VEM. Além da TAP, segundo ele, formalizaram propostas o fundo americano MatlinPatterson e a empresa Ocean Air. O executivo, que participou da abertura do 33º Congresso da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), contou que a ATS, uma das maiores empresas de manutenção de turbinas da Europa, também tem interesse na VEM, mas ainda não apresentou proposta. Segundo ele, o MatlinPatterson não informou ainda se entraria no negócio em conjunto com outra companhia ou fundo de investimentos . Já a TAP, segundo Cunha, pediu que sua proposta seja analisada de forma "exclusiva", que seja uma solução individual que envolva apenas a própria TAP e o BNDES. Mas não ficou claro que tipo de tratamento ela espera receber do banco, considerando a escassez de prazo para equacionamento da dívida com as empresas de leasing. "Esperamos que na próxima semana a gente possa dar uma definição sobre o plano que vai ser aprovado. Agora, a companhia que tem até o dia 9, não pode ficar com três planos no ar. Ou tem plano ou não tem plano. Temos que chegar ao dia 9 de novembro com dinheiro em caixa e pagar a dívida. (Colaborou Chico Santos)