Título: Oportunidade de melhorar a vida
Autor: Bessa, Sílvia; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2010, Política, p. 2

Edivilson Nunes, Maria das Mercedes e Natanael Alves Dias são representantes de três gerações diferentes de Guaribas, a cidade de 4,6 mil moradores encravada no sudeste do Piauí que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu como símbolo do combate à fome, no início do primeiro mandato, em 2003. O desenvolvimento do pequeno município nos últimos sete anos e meio deu fôlego para os três aproveitarem as novas oportunidades para tentar melhorar de vida. De ajudante de obras e vigia de casas em Brasília, Nunes, 32 anos, casado e pai de dois filhos, virou uma espécie de microempresário. Depois de conseguir juntar dinheiro com a família, retornou ao Piauí para se tornar dono do próprio negócio. Ergueu, graças ao aprendizado com um mestre de obras brasiliense, um bar que mantém ao lado de sua casa. O local modesto abriga um balcão, uma estante lotada de bebidas alcoólicas, um freezer para os refrigerantes e uma ampla mesa de bilhar. Na frente, protegida por um toldo contra o forte calor do Piauí, uma churrasqueira elétrica para assar carne de sol. A renda de R$ 300 mensais é complementada pelos R$ 112 que recebe do Bolsa Família, parte por manter os dois filhos (um de 12 e outro de 11) na escola. Com esse dinheiro e as economias feitas do tempo de Brasília, Nunes adquiriu até uma moto 125cc. A Guaribas do início do primeiro mandato de Lula não tinha luz e água. Moto, então, era peça de luxo. A primeira a chegar foi a eletricidade, depois a água. As motocicletas passaram a invadir o município, escondido no fim de 52km de estrada esburacada e arenosa, há dois anos. Os filhos do dono do bar conseguem desfrutar de acesso à internet de banda larga gratuito fornecido pelo Estado. Há pouco mais de um mês uma operadora de telefone celular instalou uma antena próxima do centro. A moda entre a juventude guaribense é trocar mensagens de textos pelo telefone e frequentar as redes sociais da internet, como Orkut e Facebook. Estão disponíveis 14 computadores com acesso à rede mundial de computadores. O coordenador do telecentro é Natanael. Com 20 anos, ele formou-se no ensino médio, aprendeu informática e suporte num programa de inclusão digital do estado. Hoje ensina os jovens. O garoto, agora, quer cursar direito. Disse ter conseguido já a bolsa do Prouni, também programa do governo federal, para estudar em São Paulo. Sem precisar do Prouni, Maria das Mercedes já começou o ensino superior. Aos 37 anos, a mãe de quatro filhos conta que depois que Guaribas apareceu no mapa, a partir de 2003, passou a ambicionar voos mais altos. ¿Antes, a gente acordava 2h da manhã para subir na serra e pegar água. Hoje, a água está ali. Temos dinheiro para comprar comida¿, disse. Maria das Mercedes completou o ensino médio com 32 anos. Há dois começou um curso de pedagogia. Com a formação, dá aulas no Programa Brasil Alfabetizado. O Bolsa Família de R$ 130 completa a renda de R$ 250 de professora. Desse dinheiro, ela separa o do programa do governo para pagar a faculdade, que espera terminar em 2012. ¿Agora, eu quero mais para os meus filhos. Gostaria que eles fizessem um curso mais especial, algo como engenharia ou medicina`, afirmou.

¿Viúva da seca¿ Em Itinga, no Vale do Jequitinhonha, Marleide Dias de Brito aguardava ansiosamente pelo benefício do Bolsa Família em 2003, enquanto o marido Welton Ruas de Oliveira trabalhava no corte de cana no interior de São Paulo. Ela estava na condição de ¿viúva da seca¿. Agora, Marleide, que é mãe de dois filhos ¿ Welson, de 16 anos, e Adeni, de 13 ¿ está satisfeita com os R$ 134, desde o primeiro mandato de Lula. O marido, novamente, saiu para trabalhar no interior de São Paulo. Ela revelou que trabalha informalmente como empregada doméstica na cidade para ganhar R$ 100 por mês. Em Itinga, o progresso não veio com a mesma intensidade que em Guaribas, mas, para alguns moradores, além de alimento na mesa, mesmo com o dinheiro sendo pouco, o Bolsa Família representou a oportunidade de comprar algum móvel para a casa, como o sofá adquirido a prazo ¿ R$ 350 em cinco prestações. A vizinha, a dona de casa Maria Aparecida Pereira, agradece ao programa por ter adquirido um armário novo. Comprou o móvel por R$ 300, divididos em seis parcelas. Mãe de três filhos, ela entrou no programa há seis anos e recebe R$ 90 por mês. (LR e TP)