Título: Aftosa afeta mercado de carne suína
Autor: Cibelle Bouças e Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária Problema ganhará nova dimensão se forem confirmados focos no Paraná

O surto de febre aftosa que atinge o Mato Grosso do Sul já começou a causar prejuízos ao setor de suínos, antes mesmo da confirmação dos focos no Paraná - um dos principais exportadores. No mercado externo, 14 países já confirmaram o embargo à carne suína; no mercado interno, os preços do animal vivo recuam em algumas das principais praças produtoras. No mercado interno, o impedimento do envio de suínos para o Sudeste, um dos principais mercados compradores de Santa Catarina (principal Estado produtor e exportador), está derrubando os preços do animal vivo no Estado. De acordo com dados do Sindicarnes-SC (sindicato que representa as agroindústrias catarinenses), os produtores estão recebendo neste mês R$ 2,00 por quilo do animal vivo, mesmo preço registrado em maio deste ano e 20% abaixo da média de janeiro deste ano. A tendência, segundo a entidade, é que as empresas passem a pagar ainda menos na próxima semana. Já há produtores que estão recebendo R$ 1,95 pelo quilo do suíno vivo. A Associação dos Criadores de Suínos do Estado (ACCS) deve reunir os associados na próxima semana para pedir aos produtores que endureçam, e deixem de colocar tanto animal neste momento no mercado, de forma a reduzir o poder de barganha das indústrias. Para o produtor independente, Rubens Grasel, de São João do Oeste (SC), as empresas estão se aproveitando do momento de forma exagerada porque enquanto as exportações do Estado não estiverem comprometidas, não há porque haver redução. Dono de um plantel com 2,5 mil matrizes, Grasel vende para Sadia, Perdigão e Unibom. Geralmente são oito cargas por semana, cerca de mil animais que são vendidos para abate. O presidente da Cooperativa de Campos Novos (Copercampos), Vilibaldo Schmid, diz que os sinais são de queda de preço pago ao produtor. E qualquer redução, segundo ele, deixa os produtores preocupados porque tem afetado a margem, já que os custos de produção não estão caindo na mesma proporção, embora se verifique recuo de insumos como soja e milho. Em São Paulo, principal praça consumidora, os preços também recuaram nos últimos dias, pressionados pela queda da demanda no fim do mês e à dificuldade dos produtores de entregar os animais no Sul do país, segundo a Jox Assessoria Agropecuária. Ontem (dia 27), o quilo do suíno vivo foi comercializado a R$ 2,27, em média, queda de 2,1% no dia e de 8,5% na semana. "Muitas integrações de São Paulo, que mandavam animais abatidos para frigoríficos do Paraná e Santa Catarina estão encontrando dificuldades para entregar a produção, em função das barreiras sanitárias nos Estados", avalia Oto Xavier, analista da Jox. Ele observou que a redução da demanda devido à queda de poder aquisitivo dos consumidores no fim do mês, também colaborou para o recuo nos preços. No mercado externo, o surto de aftosa também já traz efeitos à carne suína brasileira. "Se for confirmado o foco no Paraná, a situação será muito mais complicada porque certamente a Rússia e a Ucrânia farão embargo ao Estado", afirma Rui Vargas, assessor para assuntos da área veterinária da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Os dois países proibiram a entrada de carnes bovina e suína do Mato Grosso do Sul, após a identificação da aftosa. De acordo com dados da entidade, Rússia e Ucrânia são responsáveis por 67,5% das exportações brasileiras de carne suína. Já os 14 países que impuseram o embargo - África do Sul, Argentina, Bolívia, Cingapura, Colômbia, Cuba, Filipinas, Indonésia, Moçambique, Paraguai, Peru, Romênia, Suíça e Uruguai, de acordo com dados do Ministério da Agricultura - , respondem por 11,24% (ou US$ 99,8 milhões) das exportações brasileiras no acumulado de janeiro a setembro, segundo dados da Abipecs. Para Pedro de Camargo Neto, presidente da (Abipecs), os efeitos negativos da crise da aftosa no mercado de suínos são contornáveis independentemente da confirmação de focos da doença no Paraná. Segundo ele, a posição russa de só barrar o produto sul-mato-grossense após a identificação do foco em Eldorado foi importante para tranqüilizar o mercado. Mas ele reclamou da Argentina, que num primeiro momento anunciou que não iria barrar a carne suína brasileira e que na quarta-feira mudou de idéia. Ainda não há números precisos sobre as exportações de carne suína neste mês mas, segundo fontes do setor, algumas empresas já começaram a reduzir embarques. No porto catarinense de Itajaí, de acordo com sua assessoria, a expectativa já era de uma possível redução dos embarques em comparação com setembro passado.(Colaborou FL)