Título: BC confirma a tendência de corte da taxa de juros na ata do Copom
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Finanças, p. C2
O ata da reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, faz um diagnóstico positivo da inflação, indicando que há espaço para novos cortes de juros. Mas o documento avisa, de forma mais enfática do que o costume, que uma nova decisão sobre corte na taxa será tomada apenas na próxima reunião, em novembro, após análise da evolução da inflação. O Copom descreve um quadro inflacionário positivo, com pressões apenas transitórias nos índices de curto prazo, um ritmo de crescimento da economia condizente com a capacidade produtiva e um cenário internacional que, embora mais volátil, permanece favorável ao financiamento da economia brasileira. Esse tom otimista indica que, a exemplo do ocorrido neste mês, quando a taxa básica sofreu corte de 19,5% para 19% ao ano, há espaço para novas reduções nos juros. Mas a ata não abandona por completo o discurso de cautela. "Tendo em vista as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária e os riscos associados aos cenários traçados em cada momento, o Comitê avalia que será necessário acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião para, só então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária." Esse tipo de aviso não é novidade - na ata anterior, de setembro, havia algo semelhante. Mas a ênfase agora é maior. "É algo meio óbvio o Copom não tomar as decisões antes da hora", diz Roberto Padovani, da Tendências Consultoria. "Mas, se é óbvio, por que o Copom escreveu uma ata com essa ênfase toda?" Há duas explicações para esse comportamento do Copom, acredita Padovani. Uma delas é evitar excesso de otimismo do mercado. De setembro a outubro, o Copom acelerou o corte na taxa básica, de 0,25 para 0,5 ponto percentual. A mensagem do BC, interpreta Padovani, poderia ter o objetivo de conter apostas no mercado de que o ritmo de corte vá se acelerar ainda mais. Outra explicação que circulou ontem no mercado financeiro, afirma, é que o BC quer evitar transmitir a mensagem de que tem um roteiro inflexível de cortes para a taxa Selic. "É plausível que o Copom já tenha um plano de corte de juros na cabeça", diz. "O BC deixa claro na ata que não irá segui-lo a qualquer custo." Na visão dos analistas, o parágrafo acima não diminuiu em nada o quadro favorável descrito pela ata para a inflação. "De forma geral, é uma ata positiva", afirma Adauto Lima, do WestLB. "É uma ata bastante condizente com o quadro econômico, sem surpresas." Segundo a ata, a elevação recente da inflação de curto prazo se deve a fatores transitórios, que devem arrefecer ao longo do tempo, sem contaminar os índices de preços em horizontes mais longos. Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou inflação de 0,35%, mais que o dobro do mês anterior (0,17%). O BC antecipa que poderão ocorrer novas pressões nos indicadores de outubro. "A aceleração da inflação não surpreendeu, haja vista que somente a elevação dos preços dos combustíveis, há muito antecipada pelos analistas, respondeu por mais de 40% da variação do IPCA", diz a ata do Copom. O documento também atribui à variação dos preços dos combustíveis o ligeiro aumento das expectativas de inflação do mercado para 2005 entre as reuniões de setembro e outubro, quando passou de 5,19% para 5,24%. O Copom descreve um ambiente internacional mais volátil, em virtude de perspectivas menos favoráveis à inflação americana e de pressões nos preços da gasolina. Mas não demonstra maiores preocupações. "O cenário externo permanece favorável, particularmente no que diz respeito às perspectivas para financiamento para a economia brasileira." Na economia interna, o BC destaca sinais de que os investimentos estão ampliando a capacidade produtiva - e de que a economia cresce em ritmo adequado. "A atividade econômica deverá continuar em expansão, mas em ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação", diz.