Título: Bancos aumentam taxas, apesar do corte na Selic
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2005, Finanças, p. C3

Crédito Juro médio sobe de 49,1% para 49,5% em setembro; BC prevê queda

Os bancos não repassaram aos seus clientes em setembro o corte de juros básicos ocorrido naquele mês, mostram estatísticas sobre o crédito do sistema financeiro divulgadas ontem pelo Banco Central. Pelo contrário, a taxa média em empréstimos livres cobrada de pessoas físicas e jurídicas subiu de 49,1% para 49,5% ao ano, na comparação com agosto, e os "spreads" bancários se expandiram no mês. Em setembro, o BC começou a afrouxar a política monetária, com um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica, que caiu de 19,75% para 19,5% ao ano (atualmente, após nova queda, está em 19%). A queda da meta da taxa Selic produziu um pequeno alívio nos custos de captação dos bancos, que caiu de 18,9% para 18,6% ao ano em setembro. Mas esse ganho acabou apropriado pelas instituições financeiras. O spread bancário, que é a diferença entre os custos de captação e de empréstimo dos recursos, subiu de 30,2 para 30,9 pontos percentuais no período. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, não acredita que tenha havido um aumento deliberado de margens dos bancos. Para ele, ainda não houve tempo para que as estatísticas registrassem a queda dos juros bancários. "Em outubro, seguramente os bancos vão repassar aos clientes os menores custos de captação." Se em setembro os bancos apenas tivessem deixado de repassar aos clientes a queda dos custos de captação, a taxa de juros teria ficado estável. Mas houve alta dos juros em alguns produtos financeiros, o que acabou pressionando a taxa de juros média do crédito em geral. Um segmento do mercado em que houve forte alta nos juros médios foi o financiamento de aquisição de bens, exceto veículos, que passou de 53,7% para 59,9% ao ano, entre agosto e setembro. Para Lopes, essa alta reflete fatores estatísticos, mais do que um eventual reajuste das taxas cobradas pelas instituições financeiras. Em agosto, disse, os juros médios tinham sido mais baixos em virtude do Dias dos Pais, que puxou as vendas de redes varejistas, que oferecem financiamentos bancários com juros menores. Em setembro, o volume de vendas voltou ao normal, deixando de afetar positivamente os juros médios. Em agosto, diz Lopes, um banco que tem acordo com uma grande rede varejista chegou a responder por 35,7% dos financiamentos para aquisição de bens, exceto veículos. Passado o Dia dos Pais, em setembro esse percentual caiu a 20,8%. Outro fator que influenciou negativamente os juros bancários médios foi o encarecimento do cheque especial, cujas taxas passaram de 148,5% para 148,8% ao ano, entre agosto e setembro. Neste caso, pesaram negativamente tanto o aumento do custo de captação dos bancos quanto o alargamento dos "spreads". O custo de captação dos bancos para o cheque especial passou de 18,1 para 18,3 pontos percentuais, em virtude do aumento dos juros futuros de prazo mais curto (o corte da Selic afetou positivamente apenas prazos mais longos). Os bancos elevaram ligeiramente seu "spread", de 130,4 para 130,5 pontos percentuais. Os volumes de crédito seguiram trajetória de expansão em setembro, com alta geral de 1,2%, de R$ 541,830 bilhões para R$ 548,112 bilhões. Mantendo a tendência verificada nos últimos anos, o chamado crédito livre - que não tem tabelamento de juros - continua a ser o segmento mais dinâmico do mercado. Ele subiu 1,8%, de R$ 317,539 bilhões para R$ 323,292 bilhões. A participação do crédito livre no Produto Interno Bruto (PIB) bateu novo recorde histórico, passando de 16,9% para 17,1%. O crédito consignado em folha de pagamento ainda puxa o ciclo de expansão do crédito livre, mas num ritmo menos intenso. Pesquisa do BC com os 13 bancos que operam mais intensamente com crédito pessoal (79% do mercado) mostra que o crédito consignado cresceu 2,3% em setembro, para R$ 21,264 bilhões. O crédito direcionado manteve-se estagnado no mês (variação zero), somando R$ 185,440 bilhões. Como proporção do PIB, recuou de 9,9% para 9,8%.