Título: PCdoB protesta contra ortodoxia de Palocci
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2004, Política, p. A-7

O PCdoB, partido do coordenador político do governo, ministro Aldo Rebelo, aumentou o tom de suas críticas à política econômica do governo, protestando em nota oficial contra a orientação ortodoxa dada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. As críticas chegam às vésperas de uma reforma ministerial, em um momento em que Rebelo tem a sua permanência como articulador político ameaçada por setores do PT, que querem recuperar esta esfera de influência para o partido. De acordo com a nota do comitê central que se reuniu no domingo em São Paulo para avaliar as eleições municipais, "os rumos do projeto nacional de desenvolvimento implicam (...) sobretudo em alterações significativas na política macroeconômica até aqui adotada, que não garante um desenvolvimento sustentado e continuado, taxas elevadas de crescimento econômico e nem a diminuição da vulnerabilidade externa que o Brasil precisa". O texto ainda avisa que o partido poderá fortalecer esta oposição retórica à Fazenda com atitudes concretas. Diz que esta mudança na política econômica "requer ampla conjunção de esforços que pode tomar corpo em um pacto nacional envolvendo amplos setores políticos e sociais". A nota do comitê central prova ainda que existem seqüelas do processo eleitoral, em que o PT não apoiou o candidato comunista à prefeitura de Fortaleza, Inácio Arruda. "Em alguns lugares, não houve esforço suficiente para que se concretizasse a união de forças locais necessárias à vitória", afirma o documento. Tanto Aldo Rebelo como o outro representante do PCdoB no primeiro escalão do governo, o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, participaram da reunião. O coordenador político, por meio de sua assessoria, demonstrou que não se considera um representante do partido dentro do governo federal. Avisou que não comentaria o documento do Comitê Central, assim como não comenta documentos do PMDB, do PTB e de outros partidos aliados. Integrante do comitê central, o deputado Jamil Murad (SP) afirmou que a insatisfação do partido com a política econômica é antiga e não comentou o comportamento dos ministros durante o encontro. "O partido tem um coletivo que o dirige, onde todos debatem e as posições individuais não são divulgadas. O que existe é a posição da legenda", afirmou. Segundo Murad, a eleição municipal mostrou um equilíbrio entre o governo e a oposição, sinal perigoso para 2006. "Acendeu-se uma luz amarela no governo, que precisa aglutinar suas forças para se fortalecer. Há dois rumos claros: o do antigo governo Fernando Henrique e o de Lula e é preciso adotar com decisão o segundo", disse. Com apenas dez prefeitos eleitos no mês de outubro, o PCdoB ficou como o menor partido da base governista em número de votos e base municipal. No Congresso, onde têm nove deputados, supera o PV. A aliança histórica com o PT, mantida desde 1986, garantiu para o partido entretanto dois ministérios para a sigla, o mesmo que dispõe o PMDB.