Título: Demandas dos europeus são inaceitáveis, diz Amorim
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2005, Brasil, p. A6

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que as demandas feitas pela União Européia para redução de tarifas de importação de produtos industriais e abertura do mercado de serviços tornam ainda mais inaceitável a proposta feita na semana passada pelos europeus na negociação comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Amorim comentou a proposta da UE sexta-feira, após participar de uma teleconferência com representantes de cinco dos principais atores da negociação na OMC: UE, Estados Unidos, Índia, Brasil e Austrália. Amorim questionou a informação da comissão européia, de que a proposta apresentada pelo comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, representa um corte de 46% das tarifas de importação de produtos agrícolas. "A pressão continua sobre a Europa, todos concordaram com isso", disse o ministro, ao comentar que, na prática, a proposta apresentada pelos europeus para redução das tarifas representaria uma queda média de 39%, quando ponderada pelos produtos importados pelos europeus. O índice de 46% seria uma média dos diversos índices de redução, nas cinco faixas em que os europeus dividiram sua proposta, explicou. Esse índice de redução seria muito próximo do alcançado na última grande rodada de negociações comerciais, a Rodada Uruguai, e bem distante da sugestão de cortes de 54%, em média, apresentada pelos EUA. A forma como a proposta foi apresentada, com várias faixas e indefinição sobre quais produtos "sensíveis" não serão incluídos na negociação torna mais difícil avaliar o alcance da abertura sugerida pelos europeus, diz Amorim. O ministro criticou duramente a demanda dos europeus para redução de 75% nas tarifas dos bens industriais, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. "Essa é uma rodada de desenvolvimento", disse, enfatizando a reivindicação de tratamento diferenciado entre os países membros da OMC. Para Amorim, a oferta agrícola apresentada como o limite a ser alcançado pelos europeus está "muito abaixo" do que esperam os parceiros e é ainda mais insuficiente se somada às demandas européias nas outras áreas de negociação, como tarifas industriais e serviços. Ele informou ao Valor que a proposta européia para serviços, em que se exigem metas quantitativas de abertura para fornecedores, foi classificada de "inaceitável" por participantes da teleconferência da sexta-feira. "Nem fomos nós que dissemos isso", comentou. Os europeus argumentam que uma maior abertura do mercado agrícola acabaria com a vantagem concedida aos países mais pobres, ex-colônias européias da África, Ásia e Pacífico, o que, segundo afirmou o comissário Peter Mandelson, reduziria o comércio desses países com a Europa, de 9 bilhões para 3 bilhões de euros. Para Amorim, esses argumentos são uma tentativa dos europeus de dividir os países em desenvolvimento e os mais pobres na negociação na OMC. O Brasil se dispõe a discutir formas de ajudar esses países, mas não aceita propostas que só prolongam a dependência em relação à exportação de produtos com preços voláteis, argumenta Amorim.