Título: Governistas do PMDB tentam vice para segurar partido
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2004, Política, p. A-7

Divididos e considerando ainda insatisfatórios os bônus de serem aliados do governo federal, os dirigentes do PMDB, parlamentares, prefeitos e governadores da legenda reúnem-se amanhã em Brasília para discutir os rumos do partido. A corrente majoritária tentará acalmar os descontentes e convencê-los da necessidade de manter-se no governo até 2006, tendo tempo para analisar com calma o quadro da sucessão presidencial e pressionar o PT pela Vice-Presidência ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Já os pemedebistas de quatro Estados - Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás -, vão exigir que o partido entregue os cargos. Houve briga de foice com o PT nessas regiões. Há ainda uma corrente intermediária, que defende uma certa independência, mas sem rebelião. "Nós ainda não temos um nome nacional", resumiu um pemedebista ligado à cúpula do partido. A permanência do PMDB no governo - a tese mais provável - não minimiza os focos de tensão com o PT. Depois da eleição de 1.058 prefeitos no país, a direção do partido já montou uma espécie de mapa de poder, com análises sobre possíveis candidaturas majoritárias em quase todos os Estados. Para viabilizar esse projeto, o PMDB precisa derrubar a tese da verticalização das alianças, o que daria ao partido autonomia para se desligar do governo federal nas disputas regionais. "Essa negociação terá que ser conduzida Estado por Estado, e com muito critério", disse um integrante da cúpula. A direção do PMDB já aponta como prováveis candidatos a governadores Maguito Vilela (Goiás), Joaquim Roriz (Distrito Federal), André Puccinelli (Mato Grosso do Sul), Sérgio Cabral (Rio de Janeiro), Hélio Costa (Minas Gerais), Garibaldi Alves (Rio Grande do Norte), Eunício Oliveira (Ceará), Mão Santa (Piauí), Valdir Raupp (Rondônia), e Romero Jucá (Roraima). Isso sem falar em prováveis alianças com a oposição, especialmente no Sudeste. O partido aposta também na filiação do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que deixou o PSB. A reunião do PMDB será um fator a mais de pressão ao governo federal, depois que os governadores da legenda, na semana passada, sugeriram o afastamento do partido da base de sustentação. "O PMDB, entre as famílias do nosso condomínio governista, é a mais amiga. Tem muitos herdeiros e filhos espalhados. É preciso ter paciência e reconhecer a legitimidade dos pedidos dos governadores", afirmou o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, minimiza a tese dos governadores. "Essa posição dos governadores é respeitável, mas não é nova. Eles são apenas um foro do partido. A posição da bancada também tem muita importância", disse o ministro, que quer permanecer no Executivo. Os pemedebistas querem mais prestígio e pretendem atuar mais diretamente na formulação de políticas de governo. Alegam que até agora não sentiram nenhuma boa vontade do PT e, portanto, nunca se sentiram "em casa". Dirigentes partidários criticam a relação com o governo federal, pois as nomeações prometidas nos segundo e terceiro escalões não foram cumpridas. "Isso não foi resolvido, e veja o resultado", resumiu um parlamentar. No Rio, o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, disse que defenderá na reunião do partido, em Brasília, marcada para amanhã, o lançamento de candidatura própria do PMDB para as próximas eleições presidenciais. Em encontro ontem, na sede do diretório regional, o ex-governador propôs a realização de uma eleição prévia nos Estados para a escolha do candidato que representará o partido na disputa. A idéia é que, uma vez definido o nome dos pré-candidatos, a escolha final seja feita pelos filiados ao PMDB em cada Estado. O ex-governador não descarta a hipótese de concorrer à sucessão de Lula: "Não sou candidato, mas não tenho medo de voto, nem de disputa". Garotinho confirmou que vai propor na reunião a saída do PMDB do governo federal e a adoção de posição crítica em relação ao presidente Lula: "Há uma posição quase unânime dentro do PMDB nacional que o partido deva sair do governo e fazer uma oposição moderada". (Colaborou Janaina Vilella, do Rio)