Título: Bush deve alterar equipe para recuperar confiança
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2005, Internacional, p. A9

EUA Democratas e até republicanos pedem a saída do assessor Karl Rove

O presidente Bush terá que fazer mudanças em sua equipe para recuperar a credibilidade perdida pela Casa Branca nas últimas semanas, afirmaram ontem analistas políticos e congressistas. O principal problema a resolver é o do assessor político Karl Rove, que continua sob investigação no inquérito sobre o vazamento do nome da espiã Valerie Plame, da CIA, mas não foi acusado diretamente pelo promotor especial Patrick Fitzgerald. Segundo a rede de TV CNN, o presidente anunciará em janeiro mudanças na Casa Branca. Presidentes que atravessaram escândalos, como Ronald Reagan com o Irã-Contras, só conseguiram recuperar credibilidade depois de mudanças profundas na equipe. Na sexta, renunciou o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis Libby, depois do anúncio de seu indiciamento por perjúrio (mentir sob juramento à polícia ou justiça), declarações falsas e obstrução de Justiça. Pela primeira vez em 140 anos um funcionário da Casa Branca tornou-se réu num processo criminal enquanto ocupava o cargo. Libby mentiu sobre como passou informações à imprensa sobre a identidade da espiã da CIA, mulher do embaixador Joseph Wilson. O diplomata denunciou à imprensa a falsidade de uma das alegações principais para a invasão do Iraque. Wilson concluiu numa viagem a Níger que Saddam Hussein nunca tentou comprar urânio do país. Karl Rove, que também participou do vazamento do nome de Valerie Plame, não foi acusado formalmente, mas continua sendo investigado pelo promotor. Democratas pedem a renúncia de Rove e republicanos, embora não afirmem isso diretamente, também querem uma reformulação para que Bush recupere credibilidade política. "É preciso trazer sangue novo, funcionários qualificados e entusiasmados. Bush sabe quando é a hora de mudar e agir. Ele fará isso", disse o republicano Trent Lott à rede de TV Fox. O republicano afirma que Rove deveria tomar a iniciativa e renunciar se acreditar que será indiciado. Nos programas políticos tradicionais nos Estados Unidos das manhãs de domingo, os democratas pediram mais diretamente a renúncia. "Embora não esteja claro se Rove será indiciado, o presidente precisa decidir se quer continuar preocupado com questões legais dentro da Casa Branca", disse o senador Christopher Dodd, de Connecticut, também à Fox. O líder dos democratas no Senado, Harry Reid, disse à ABC que acha que "Rove deveria sair logo". O democrata Charles Schumer sugeriu durante programa na CBS que Bush faça investigação interna sobre a conduta do vice-presidente. Cheney está envolvido na investigação conduzida pela promotoria. Segundo notas de uma reunião entre o vice-presidente e seu chefe de gabinete, entregues por Libby a pedido de Fitzgerald, o vice-presidente foi quem primeiro identificou a mulher de Wilson como espiã da CIA. Tentando reduzir o dano à credibilidade da Casa Branca, a indicada para a Suprema Corte, Harriett Miers, retirou sua candidatura um dia antes do indiciamento de Libby. Estava ficando cada vez mais explícito que a atual assessora jurídica da Casa Branca teria dificuldades para ser confirmada no Senado. O caminho escolhido por Bush na indicação de um novo nome para a Suprema Corte também indicará se o presidente conseguirá recuperar credibilidade até o fim do segundo mandato, em 2008. Miers viajou com o presidente e seu chefe de gabinete, Andrew Card, para Camp David no fim de semana, para discutir os nomes dos candidatos. O presidente abandonou a idéia de indicar alguém que não seja juiz, e entre os candidatos estão Michael Luttig e Samuel Alito, que hoje ocupam cargos em tribunais superiores (cortes de apelação), segundo a agência Reuters. Luttig foi assistente do juiz Antonin Scalia, um dos conservadores mais radicais hoje presentes na Suprema Corte. Alito também tem reputação de forte conservadorismo. Um dos grandes problemas na seleção de Miers, além de sua falta de experiência no Judiciário, foi a dificuldade em garantir à extrema direita que apóia Bush que a futura juíza legislaria a favor de restrições ao aborto e casamento homossexual, por exemplo. O problema é que, se Bush escolher um juiz considerado como conservador demais, os democratas ameaçam interromper a discussão da nomeação como uma medida permitida pelo estatuto do Congresso chamada "filibuster", que tranca todas as discussões em pauta. Os democratas já haviam ameaçado usar essa estratégia no fim do ano, mas na época o líder republicano no Senado, Tom DeLay, ameaçou propor uma mudança de regras extinguindo essa medida. O problema é que hoje DeLay não é mais líder no Senado - renunciou por denúncias de financiamento ilegal de campanha.