Título: A força das redes sociais
Autor: Rothenburg, Denise; Abreu, Diego; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 03/05/2010, Política, p. 2

Estratégia vencedora de Barack Obama de investir em sites como o Twitter é espelho para os presidenciáveis brasileiros

A estratégia eleitoral específica para internet ganhou corpo depois que um então senador desconhecido do grande público postulou e venceu a presidência norte-americana quebrando tabus. O sucesso da campanha de Barack Obama, o primeiro negro a assumir a Casa Branca, foi atribuído, em parte, à mobilização de um exército de pequenos eleitores militantes na web descontentes com a postura isolacionista do governo do republicano George W. Bush.

Obama mirou nas principais redes sociais da internet para aumentar sua popularidade. No dia anterior à eleição (veja quadro), o então candidato do Partido Democrata arrebatou até 380% a mais de amigos, apoiadores, seguidores e assinantes do que seu adversário, o senador republicano John McCain. Quatro vezes mais pessoas assistiram a vídeos na Internet produzidos pela campanha vencedora do que na do derrotado.

Segundo o TNS Media Intelligence, instituto de dados estratégicos para publicidade, entre fevereiro de 2007 e setembro de 2008, os dois postulantes norte-americanos gastaram US$ 7 milhões em propaganda online e US$ 300 milhões em televisão.

A militância online de Obama conseguiu elevar os dólares arrecadados na reta final, que acabaram revertidos para comprar espaço de publicidade na televisão. Nas semanas que antecederam a votação, o democrata dominou a publicidade. Com o fôlego minguando, McCain fez o caminho inverso, saiu da televisão e foi para a internet, mas tarde demais. A campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, trouxe Scott Goodstein, Joe Raspars e Andrew Paryze, que trabalharam para Obama com a meta de manter e elevar a agressividade online. Contratou também o militante do software livre Marcelo Branco. A pré-candidata fez festa para lançar um blog e perfis nas principais ferramentas sociais. Mas até agora quem tem dominado a rede é a campanha virtual de José Serra, comandada por Eduardo Graeff.

O pré-candidato tucano tem quase cinco vezes mais seguidores no Twitter do que a petista. No Orkut, Dilma tem 999 amigos e Serra 164, mas a comunidade Serra Presidente tem quase 71 mil seguidores, contra cerca de 10 mil de Dilma Presidente. Os perfis dos dois pré-candidatos no Facebook também contam vantagem ao tucano (3.651 contra 85). No YouTube, o canal de Serra tem 301 assinantes contra 179 do de Dilma Rousseff. A pré-candidata do PV, senadora Marina Silva, tem 82 amigos no Facebook, 34.048 seguidores no Twitter e quase 6.500 integrantes da comunidade Marina Silva Presidente.

Marcelo Branco diz apostar na militância petista forte nas ruas para contaminar a internet e superar os números de José Serra. Mas vendo a mobilização online dos tucanos maior e mais agressiva, o PT decidiu entrar no Tribunal Superior Eleitoral e no Ministério Público Eleitoral contra o site Gente que mente, mantido pelo PSDB, por propaganda negativa e antecipada.

Colaborou Flávia Foreque

Comparação

A Internet fez a diferença na eleição presidencial dos Estados Unidos. O vencedor, Barack Obama, conseguiu montar uma rede de influência muito maior do que seu adversário republicano, o senador John McCain. Veja abaixo quantos seguidores cada um tinha no dia anterior à eleição que ocorreu em 4 de novembro de 2008. E qual a situação hoje entre os pré-candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

ESTADOS UNIDOS

Facebook Obama conseguiu quase quatro vezes mais apoiadores do que McCain: 2.379.102 contra 620.359 apoiadores.

MySpace McCain também perdeu feio: Obama tinha 833.161 amigos contra 217.811 do senador republicano.

YouTube A página de Obama tinha 114.559 assinantes. Já McCain ficou com 28.419.

Twitter A vitória na rede de microblogs também foi esmagadora para Obama. O presidente tinha 112.474 seguidores contra os 4.603 de McCain.

BRASIL*

Facebook José Serra tem 42 vezes mais apoiadores do que Dilma: 3.651 contra 85.

Orkut A comunidade Serra presidente tem 70.890 integrantes. A Dilma presidente está com 9.976. A petista ganha, no entanto, na quantidade de amigos: 999 contra 64.

YouTube Os números são tímidos se comparados aos da eleição americana, mas Serra leva vantagem: 301 assinantes contra os 179 de Dilma.

Twitter O tucano tem quase cinco vezes mais seguidores do que a petista. Serra tem 218.300 pessoas que acompanham suas mensagens de até 140 caracteres. Já Dilma conta com 45.207.

*Até as 18h de ontem

Palavra de especialista

TERRENO LIVRE

¿A internet virou um terreno relativamente livre. A legislação está muito falha. Mesmo que houvesse tempo (para estabelecer regras), não teria efeitos práticos porque não poderia legislar sobre este ano. A Justiça então deve analisar caso a caso, mas a internet no Brasil é um instrumento bastante secundário para a informação política e ela não consegue realmente ter um impacto na maior parte do eleitorado, especialmente nas classes C, D e E. Essas classes utilizam como principais meios de informação o rádio e a televisão. A ideia de contratar assessores do Obama para popularizar a internet não vai ter o efeito esperado nem em termos de divulgação nem de arrecadação. As pessoas que entram nos sites (de políticos) utilizam mais para fortalecer os argumentos a favor de seu candidato.¿ » Ricardo Caldas, professor de ciência política da UnB

FACE A FACE

¿Certamente a internet não terá o mesmo efeito que teve nos Estados Unidos, na eleição do presidente Barack Obama, porque os indicadores de utilização e acesso são muito diferentes dos nossos. É aquela velha história: as pessoas tendem a copiar processos, mas têm que adaptar à realidade. Não se pode querer imaginar que vamos ter o mesmo efeito no Brasil como teve nos EUA. Nada substitui o debate nem o comício, nem todas as outras maneiras que o eleitor tem para ver o seu candidato face a face. Basta uma expressão, um comportamento, que revele muita coisa. Na internet isso é quase impossível.¿

» João Paulo Peixoto, professor de ciência política da UnB