Título: "O PT subestimou seus adversários", diz o prefeito reeleito do Recife
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2004, POlítica, p. A-8

O prefeito reeleito do Recife, João Paulo, avalia que o PT superestimou suas possibilidades nas eleições municipais. "Ignoramos que tínhamos adversários e adversários competitivos", disse o prefeito, em entrevista ao Valor. Ex-operário, adepto de meditação e abstêmio, João Paulo reelegeu-se derrotando o candidato do governador, Jarbas Vasconcelos (PMDB). Seu nome vem ganhando peso como possível candidato do PT ao governo do Estado, condição que ele só admite "caso haja uma convocação por parte do partido e do próprio presidente da República". A seguir, os principais pontos da entrevista: Valor: Como o sr. avalia o resultado das eleições nacionais? João Paulo: Foi positivo porque o PT criou, avançou, ampliou na sua representação. Tivemos dois arranhões como eu chamo: um foi em São Paulo, na capital, e outro no Rio Grande do Sul, com Porto Alegre, Pelotas e Caxias. Mas faz parte da democracia perder e ganhar nesta disputa. Valor: O avanço da oposição nos centros urbanos foi um julgamento do governo? João Paulo: Tivemos perdas, mas tivemos ganhos também. Fortaleza foi um problema interno do PT, mas que depois das dificuldades vividas, com a passagem de Luizianne para o segundo turno, isso foi resolvido. Hoje o PT está unido em torno da Luizianne. Os principais centros foram uma perda para nós. Mas acho que compensamos com uma maior extensão no resto das vitórias no Brasil inteiro, inclusive com a eleição folgada de seis prefeitos de capital no primeiro turno. Mas havia, talvez, uma avaliação muito ufanista em relação aos resultados da eleição. Era como se de certa forma ignorássemos que tínhamos adversários e adversários competitivos. Valor: Houve um erro de estratégia nacional neste ponto? João Paulo: Não foi um erro de estratégia. Foi um erro de avaliação das possibilidades. Fizemos uma avaliação acima as nossas reais possibilidades de crescimento. Valor: Fortaleza não pode ser um fator de desestabilização da relação dos prefeitos com o governo? João Paulo: Acho que a avaliação do governo federal não é um atribuição dos prefeitos, mas dos partidos, em particular dos fóruns internos. É o mais recomendável. Valor: Quais são as prioridades deste segundo mandato? João Paulo: Tenho a compreensão das dificuldades da cidade do Recife, que possui mais de 1,5 milhão de habitantes na linha ou abaixo da linha de pobreza. Temos que assegurar recursos de projetos como o Prometróle (projeto de saneamento e melhorias urbanas), o Reluz (projeto que pretende levar luz elétrica para 59 mil moradias) e o Capibaribe Melhor (projeto de revitalização do rio Capibaribe e remoção das palafitas instaladas em suas margens). Somente este último está avaliado em US$ 48 milhões. Vamos dar continuidade a projetos como a conclusão da primeira etapa da via Mangue (via expressa ligando a Zona Sul ao centro do Recife) e a ampliação do Programa de Saúde da Família. Valor: Sua reeleição leva o PT a pensá-lo como candidato a governador. O sr. aceitaria disputar? João Paulo: O PT em uma pré-indicação que é o nome do companheiro Humberto (Humberto Costa, atual ministro da Saúde). Eu não tenho pretensão nenhuma em ser governador. Valor: Mesmo no caso do partido colocar o nome do sr. na disputa? João Paulo: Só se houver uma convocação. Pedido eu tenho condição de negar. Agora, uma convocação do presidente, essa seria a única condição. Mas acredito que o presidente não faria isso até porque temos o companheiro Humberto, por que vamos trabalhar. Valor: Como o sr. avalia essa tendência de parte do PT de buscar aproximação com o PSDB? João Paulo: Desde que garantidos os objetivos estratégicos do partido, a sigla pode ampliar de acordo com a realidade local, e se mantendo o princípio nacional o partido pode adequar a estratégia desde que não perca sua clareza política e nitidez ideológica. Acho que hoje a relação com o PSDB nacional, é uma posição de enfrentamento. Isso dificulta.