Título: Brasil quer garantir permanência no SGP
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2005, Brasil, p. A4
Relações externas Lula pode discutir com presidente dos EUA o fim da ameaça de exclusão do sistema de preferências
Às vésperas da chegada do presidente dos Estados Unidos, George Bush, ao Brasil, o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, ligou para o representante de Comércio dos EUA, Robert Portman, com um pedido sutil. O governo brasileiro, disse Amorim, tem grande expectativa de ver extinta a ameaça americana de retirar o Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP), pelo qual quase US$ 2 bilhões em mercadorias brasileiras entram com tarifas reduzidas no mercado americano. O comentário do ministro, segundo um dos principais assessores de Amorim, é uma indicação de que o tema será abordado por Lula na conversa com Bush, ao receber o presidente americano para um churrasco, no domingo, na Granja do Torto. Desde novembro, encerrou-se nos EUA a investigação sobre o desempenho brasileiro na proteção a direitos de propriedade intelectual, iniciada a pedido de empresários americanos que acusam o Brasil de ineficiência no combate à pirataria e pedem sua retirada da lista de beneficiados do SGP. O governo americano não tem data para tomar uma decisão e costuma brandir a ameaça de retirada do Brasil da lista de beneficiados, em represália a alguma eventual hostilidade brasileira. Houve insinuações nesse sentido, de autoridades americanas, quando o Brasil cogitou a possibilidade de sanções comerciais aos EUA devido à manutenção de subsídios aos produtores locais de algodão, proibidos pela organização Mundial do Comércio (OMC). O clima do encontro de domingo, porém, é de confraternização. Bush e Lula pretendem fazer do encontro uma demonstração pública do bom relacionamento entre os dois países. O governo brasileiro, embora reconheça que não espera nenhuma decisão relevante, além da retomada de iniciativas de cooperação em setores como saúde e ciência e tecnologia, apresenta a visita como uma resposta à acusação de que o governo Lula negligenciou a relação entre o Brasil e Estados Unidos. "Há muito tempo um governo no Brasil não tinha um relacionamento tão fluido com os Estados Unidos, mesmo mantendo suas diferenças", comentou o assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia. "Mas não é momento para tirar coelhos da cartola; não haverá surpresas." Tanto Garcia como o subsecretário-geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, Antônio Patriota, comemoraram a entrevista concedida por Bush, na terça-feira, a quatro jornalistas latino-americanos (o Brasil foi representado pelo jornal "O Estado de S. Paulo"), em que o presidente americano reconheceu as diferenças de opinião em relação a Lula, mas fez questão de elogiar as boas relações que mantém com o presidente brasileiro. Garcia e Patriota reconheceram, também, que um dos temas do encontro será a atuação do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, o crítico mais feroz dos EUA na região. Com a ressalva de que o governo brasileiro não é "peão de ninguém", nem recebeu nenhum pedido dos EUA, Garcia afirmou que o Brasil poderia ajudar a aproximar e "criar condições de diálogo" entre os governos Bush e Chávez. Animado com sinais do governo americano, de que poderá rever a posição contrária à ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para abrigar o Brasil, entre outros membros permanentes, Lula deverá tratar do assunto com Bush. Falarão da América Latina, e Bush deve enfatizar o papel do Brasil como na estabilidade da região. Segundo Garcia, o governo não vai pressionar Bush para que os EUA adotem mais rapidamente as medidas definidas pela OMC, de eliminação de subsídios ilegais ao algodão.