Título: Heineken avança na disputa pela compra da Kaiser
Autor: Daniela D'Ambrosio e Christiane Martinez
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2005, Empresas &, p. B1

Bebidas Depois de iniciar processo com mexicana, cervejaria parte para vôo solo; Femsa continua no páreo

Acionista minoritária da Kaiser, com 20% de participação, a Heineken partiu para um vôo solo na compra da cervejaria brasileira. A empresa holandesa, que iniciou "due dilligence" (auditoria contábil) junto com a mexicana Femsa, em setembro, agora avalia os números da Kaiser separadamente. O processo de venda da Kaiser está em fase adiantada e deve ser concluído até o final do ano. Femsa e Heineken praticamente terminaram a etapa de "due-dilligence". Mas ainda faltam alguns documentos, como certidões, que atrasaram por conta da greve da Receita Federal. A força das duas, segundo fonte que acompanha o processo, é igualitária. A Heineken, que já tem a seu favor o direito de preferência previsto no acordo de acionistas, se fortaleceu ainda mais nessa reta final. Segundo fontes, o motivo da separação seria o interesse de cada uma em deter o controle. A multinacional holandesa ganhou fôlego depois que a Femsa, antes mesmo de finalizar as diligências, desagradou os acionistas da Kaiser ao fazer uma oferta muito baixa. "Eles queriam apenas assumir a dívida", conta fonte próxima as negociações. A Kaiser tem contingências tributárias que podem chegar a US$ 450 milhões. O valor, porém, pode ser inferior, porque boa parte das pendências está na Justiça e é passível de acordo. As candidatas a levar a cervejaria brasileira estariam usando essas contingências para diminuir o valor que efetivamente irão pagar pelos ativos. Quando comprou a Kaiser, em março de 2002, a canadense Molson desembolsou US$ 765 milhões. As ofertas pela Kaiser começam a ser feitas efetivamente este mês e, por enquanto, a disputa está polarizada entre Heineken e Femsa. Correndo por fora, uma terceira empresa surge como mais uma interessada. Na bolsa de apostas, a candidata seria a também mexicana Modelo, principal concorrente da Femsa. Fontes próximas às negociações, no entanto, consideram a Modelo carta fora do baralho. A empresa - que lidera o mercado de cerveja no México, com 55% de participação - sequer teria começado a fazer "due dilligence". Nesse jogo, os principais envolvidos são velhos conhecidos e têm importantes conexões comerciais - de venda e distribuição - no exterior. A Molson Coors, dona da Kaiser, distribui Heineken no Canadá. Já a Heineken (ou empresas coligadas) vende cerveja da Molson Coors em países da Europa. A acionista da Kaiser tem parceria semelhante com a Femsa, que distribui Coors Light no México. Além de manter ligações com a controladora da Kaiser, Heineken e Femsa têm negócios entre si. Desde janeiro, a Heineken vende e distribui as marcas de cerveja da Femsa nos Estados Unidos. Essa teia de ligações, observa uma fonte, justificaria uma nova união entre Heineken e Femsa na compra da Kaiser. E ainda sugere que a própria Molson Coors mantivesse uma pequena participação na cervejaria. O interesse da Heineken pela Kaiser é antigo. A holandesa é sócia da cervejaria desde sua criação há quase 20 anos. Ao longo do tempo, aumentou gradativamente sua participação e chegou perto de assumir o controle ao fazer uma oferta próxima a US$ 750 milhões. Em 2002, a Heineken pagou US$ 220 milhões para aumentar de 14,2% para 20% a sua participação. Enquanto para a Heineken, quarta maior cervejaria do mundo, a compra da Kaiser garantirá expansão dos negócios na América Latina - algo estratégico depois da aquisição da Bavaria Colombiana pela SABMiller - , para a Femsa a operação pode significar uma espécie de defesa de território. A cervejaria tem 40% do mercado mexicano e teme ofensiva da AmBev no país, a exemplo do que a empresa brasileira vem fazendo no resto da América Latina. Com a Kaiser, a Femsa pode responder às iniciativas da AmBev na mesma moeda. Acumulando prejuízos desde 2002 e com sucessivas quedas de participação de mercado, a Kaiser tornou-se um problema ainda maior para Molson. A canadense passou a sofrer pressões da americana Coors depois da fusão.