Título: VCP inicia estudos para fábrica de US$ 1,3 bilhão no RS
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2005, Empresas &, p. B6

Celulose Investimento do grupo Votorantim faz parte de plano para alcançar receita de US$ 4 bi em 2020

A Votorantim Celulose e Papel (VCP) anunciou ontem um passo fundamental em sua estratégia de expansão e alcançar US$ 4 bilhões de faturamento em 2020. A fabricante de celulose e papel da família Ermírio de Moraes começará o processo de licenciamento sócio-ambiental para a construção de uma unidade industrial de produção de celulose branqueada de eucalipto no Rio Grande do Sul. O investimento poderá chegar a US$ 1,3 bilhão. A fábrica deve ser implantada na metade sul do Estado, com capacidade para produzir 1 milhão de toneladas por ano. A previsão é que entre em operação em 2011, quando ocorrerá a primeira colheita das florestas plantadas pela empresa na região desde o ano passado. A VCP tem um plano estratégico de quadruplicar sua receita bruta, dos atuais US$ 1 bilhão, em 2020, quando prevê atingir 4 milhões de toneladas anuais de celulose e 2 milhões de toneladas anuais de papel. Neste ano, a companhia deve produzir 1,4 milhão de toneladas de celulose, das quais 800 mil toneladas serão consumidas para a fabricação de papel. Mas a meta prevista no plano estratégico poderá ser antecipada. O comunicado foi feito pelo presidente da VCP, José Luciano Penido, ao governador gaúcho Germano Rigotto (PMDB), no Palácio Piratini. De acordo com Penido, a terceira fábrica de celulose da empresa no país - as outras duas situam-se no Estado de São Paulo - terá a produção destinada exclusivamente ao mercado externo, especialmente para a Europa, a Ásia e os Estados Unidos. Em sua estratégia de crescimento, em 2004, a empresa adquiriu 50% do controle da Ripasa, de São Paulo, em parceria com a Suzano Papel e Celulose. Segundo o executivo, a decisão de construir a fábrica no Estado já está tomada, mas a aprovação ainda terá de ser confirmada pelo conselho de administração da companhia, previsto para 2009. Até lá, depois da licença ambiental que deverá levar dois anos para ser obtida, a empresa ainda irá elaborar o projeto de engenharia do empreendimento. A construção deve demorar dois anos, gerando cerca de 8 mil empregos. Quando estiver operando, ela terá cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos. "Ainda não estamos anunciando a construção da fábrica porque não podemos fazê-la sem antes efetivar todo o processo de licenciamento sócio-ambiental como exigido por lei", afirmou o presidente da VCP. Segundo Penido, a fábrica da VCP será instalada em um município do "eixo" Pelotas-Rio Grande-Arroio Grande. O investimento não está atrelado à concessão de incentivos fiscais por parte do governo gaúcho. Os fatores que mais pesaram para a escolha foram a disponibilidade de terras planas para o plantio de eucaliptos e a infra-estrutura de logística, em especial a proximidade do porto de Rio Grande, segundo a empresa. Até o fim deste ano, a Votorantim estima fazer investimentos de R$ 310 milhões no Rio Grande do Sul, a contar do início de 2004, na aquisição de 67 mil hectares de terras em 14 municípios da metade sul, no plantio de eucaliptos, construção de viveiro e contratação e treinamento de pessoal. A companhia tenta ampliar a parceria de fomento florestal no Estado. A VCP tentou negociar com o MST um acordo para que assentados no Estado pudessem plantar eucaliptos e obter renda extra. Mas o movimento recusou a proposta formalmente, embora tenha dado liberdade para quem quisesse aderir à proposta. O anúncio da VCP ocorre menos de um mês depois que a empresa sueco-finlandesa Stora Enso também confirmou a "decisão estratégica" de construir uma fábrica de celulose no Estado. A empresa vai adquirir, neste ano, 50 mil hectares para plantio de eucalipto e pinus também na mesma região e uma área idêntica no Uruguai, com investimentos totais de US$ 100 milhões. A intenção da Stora Enso é chegar a 100 mil hectares em cada região nos próximos anos e a "decisão formal" de construir a fábrica deve ser tomada até 2009, disse, à época, seu presidente para América do Sul, Nils Grafström. Conforme a empresa, o eucalipto leva sete anos para chegar ao ponto de corte no Brasil, metade do tempo necessário na Escandinávia. O custo de produção no Brasil fica em US$ 70 por tonelada de celulose, contra US$ 142 na Finlândia. O Rio Grande do Sul segue ainda na disputa por uma nova fábrica de celulose que a Aracruz, sócia da Stora Enso na Veracel, fábrica localizada na Bahia, pretende instalar no país nos próximos anos. O plano prevê a construção de uma unidade também com capacidade para produzir 1 milhão de toneladas por ano para exportação e investimento de US$ 1,2 bilhão. A Aracruz já tem uma unidade em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, a antiga fábrica da Riocell que possui capacidade para produzir pouco mais de 400 mil toneladas por ano, além de mais de 40 mil hectares plantados com eucalipto no Estado. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)