Título: Para a Gol, Buenos Aires é só o começo
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1

A investida internacional da Gol vai além da inauguração de vôos regulares para Buenos Aires, em 22 de dezembro. Apresentando ritmo de crescimento bem maior que as concorrentes, a companhia pretende expandir sua atuação no exterior e operar pelo menos dois novos destinos na América do Sul até o fim de 2005, afirmou o presidente da empresa, Constantino Júnior. O executivo menciona Santiago, Montevidéu, Caracas, Santa Cruz de la Sierra e Quito como cidades de potencial interesse, mas ressalta que os próximos passos serão analisados com cautela. "Temos planos de expansão na América do Sul, mas isso passa pela necessidade de espaço nos acordos bilaterais existentes e o sucesso das operações para Buenos Aires", diz. A partir da penúltima semana de dezembro, a Gol fará dois vôos regulares de ida e volta para a capital argentina. As saídas de Guarulhos serão às 10h20 e 21h00. O retorno está previsto para 6h40 e 17h30. Há restrições para descontos nas tarifas praticadas em rotas internacionais, segundo os acordos bilaterais, o que implicará desafios para a estratégia da Gol em apresentar-se como uma companhia de baixo custo. As tarifas serão mais baratas do que os preços da concorrência, mas as limitações podem ser compensadas por um diferencial para atrair os passageiros. A idéia, segundo Constantino, é procurar opções criativas: uma das possibilidades é a oferta de serviços como transporte gratuito do (e para o) aeroporto ou descontos em hotéis - tudo casado com a venda do bilhete aéreo - para conquistar o público. "Temos que buscar alternativas para fidelizar os clientes." Dados divulgados pelo Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) mostram que a Gol já abocanhava 22,63% do mercado doméstico em outubro. Trata-se de um expressivo crescimento em relação ao mesmo mês do ano passado, quando sua participação estava em 19,84%. A companhia tem ainda uma das mais altas taxas de ocupação dos vôos do setor. De cada cem assentos, em média, 70 lugares estão ocupados no momento da decolagem. Para completar, a Gol prevê um lucro operacional robusto neste ano e está rigorosamente em dia nos seus compromissos com a Infraero. Constantino revelou ainda que a empresa avalia a possibilidade de transferir para Confins (Região Metropolitana de Belo Horizonte) a construção de um hangar próprio para manutenção de aeronaves. Os planos eram de construir a "oficina", anunciada no fim de 2002, em Viracopos, em Campinas. Hoje a companhia usa os serviços da Varig Engenharia de Manutenção (VEM), em Porto Alegre. Está satisfeita com o contrato, mas Constantino afirma que o crescimento da frota justifica o investimento em manutenção própria - a Gol chegará ao fim de dezembro com 29 aviões e renovará a sua frota entre 2006 e 2010, período para o qual está acertada com a Boeing a entrega de 45 aeronaves do tipo 737-800. No entanto, a companhia tem enfrentado lentidão nas negociações com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que precisa conceder autorização para as obras. Se o problema não for resolvido até o fim do ano, a Gol pretende abortar a operação em Viracopos e construir sua oficina em Confins. O governo mineiro está interessado em atrair esse investimento, que irá gerar empregos, e ofereceu financiamento para a construção, por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. As vantagens de Confins são a disponibilidade de área, o fato de que o aeroporto praticamente não fecha, a infra-estrutura de acesso é boa e há disposição do governo em ajudar.