Título: Capitais brasileiros investidos no exterior chegam a US$ 93 bilhões
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2005, Finanças, p. C2
O volume de capitais brasileiros investidos no exterior aumentou 12,76% em 2004, passando de US$ 82,692 bilhões para US$ 93,243 bilhões, segundo estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. O crescimento foi puxado pelos investimentos diretos, que cresceram US$ 14,304 bilhões. Os dados foram extraídos da declaração anual de capitais brasileiros no exterior. "O aumento das exportações brasileiras dos últimos anos levou empresas a aprofundarem a sua inserção no exterior por meio de investimentos diretos", interpreta o chefe do Departamento de Combate a Ilícitos Financeiros e Supervisão de Câmbio e Capitais Internacionais do BC (Decic), Ricardo Liáo. Os dados do BC não abrem os nomes das empresas que investem no exterior, mas sabe-se que boa parte do crescimento dos investimentos se deve a uma única operação ocorrida em 2004 - a fusão entre as cervejarias AmBev e Interbrew, que movimentou US$ 5,4 bilhões. Mas mesmo sem considerar essa operação isolada, os investimentos diretos brasileiros seguem expressivos, com um total de US$ 8,9 bilhões. Além de novas inversões, a expansão é explicada pelo aumento do valor de mercado dos investimentos brasileiros. Em 2003, o estoque de investimentos havia crescido apenas US$ 469 milhões; em 2002, cresceram US$ 4,734 bilhões. Os dados por ramo de atividade apresentados pelo BC - que não incluem empréstimos intercompanhia - mostram uma forte concentração dos investimentos no setor financeiro. O volume de capitais brasileiros investidos no segmento de intermediação financeira aumentou US$ 1,281 bilhão no ano, para US$ 15,137 bilhões. Atividades auxiliares da intermediação financeira - que incluem, por exemplo, corretoras de valores - cresceram US$ 4,41 bilhões, para US$ 12,887 bilhões. Também tiveram crescimento representativo o comércio atacadista e varejista (o volume de investimento cresceu US$ 367 milhões em 2004, para US$ 2,235 bilhões); a extração de petróleo (expansão de US$ 384 milhões, para US$ 566 milhões); e a fabricação de produtos de metal (crescimento de US$ 316 milhões no ano, para US$ 468 milhões). As estatísticas levantadas pelo BC não permitem, porém, identificar com precisão os setores que mais recebem investimentos brasileiros. O segmento mais importante, com um volume de US$ 20,013 bilhões (expansão de US$ 2,202 bilhões), é a categoria identificada como "serviços prestados principalmente à empresa", onde estão contabilizadas as "holdings", que investem nos mais diferentes setores. Pelas estatísticas divulgadas pelo BC, os principais países que recebem investimentos diretos brasileiros são paraísos fiscais. Entre investimentos diretos e empréstimos intercompanhias, por exemplo, Ilhas Cayman têm US$ 26,258 bilhões em investimentos diretos brasileiros. Entre os cinco maiores receptores de investimentos diretos brasileiros, três são paraísos fiscais, que respondem por 59,46% das inversões, incluindo empréstimos intercompanhia. "Os paraísos fiscais são apenas um primeiro ponto de transferência dos investimentos diretos, que terminam em outros países", disse Liáo. "Tentaremos aperfeiçoar as estatísticas nos próximos anos para identificar exatamente o destino final desse capital." Além dos investimentos diretos, os investimentos em carteira também tiveram crescimento relativamente alto - passaram de US$ 5,946 bilhões para US$ 8,224 bilhões. Neste grupo estão incluídas as compras de ações, com participação menor que 10% do capital de empresas. Mas os ativos que mais cresceram foram os bônus e notas de longo prazo, que passaram de US$ 1,491 bilhão para US$ 2,899 bilhões. Os depósitos brasileiros no exterior sofreram forte retração, passando de US$ 16,412 bilhões para US$ 10,418 bilhões. Entre os depósitos contabilizados em fins de 2003, estavam os dólares para liquidação futura adquiridos de bancos pelo Tesouro Nacional para pagamento de juros e principal da dívida externa. Esses dólares ficaram depositados no exterior até o vencimento das dívidas. Em 2004, os compromissos foram honrados, provocando queda nos depósitos.