Título: BID pode ampliar ajuda para países mais pobres
Autor: Sergio Leo e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2005, Brasil, p. A4

O presidente dos Estados Unidos, George Bush, informou ontem que pretende fazer com que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Tesouro americano liberem mais recursos para os países da América Latina. Em conferência em Brasília, encerrando a visita de menos de 24 horas ao Brasil, Bush afirmou que o BID precisa reformular sua atuação e declarou que essa mudança poderá passar pela ajuda americana para amortizar a dívida dos países latino-americanos. "Vamos discutir uma série de ações. Vou pedir ao secretário de Tesouro, John Snow, que libere mais recursos para investimentos, contribuindo para diminuir a dívida dos países mais pobres do continente", declarou Bush. Bush defendeu que o BID acompanhe a evolução das economias latino-americanas, destinando mais recursos para a iniciativa privada, sobretudo para os pequenos e médios empresários. O presidente americano acrescentou que o desenvolvimento da região precisa ser um compromisso conjunto assumido por todos os países da América Latina. "As nações deste hemisfério têm a obrigação moral de ajudar umas às outras, educando seus filhos e dando-lhes saúde", disse. "É preciso dar oportunidades a todos nas Américas, seja em Minesotta ou em São Paulo." Bush ressaltou o papel de liderança exercido pelo Brasil no continente e no cenário internacional, como no comando das forças de paz no Haiti e nos esforços para combater a aids na África. Em nenhum momento, Bush citou nominalmente seu maior opositor no continente, o presidente venezuelano, Hugo Chávez. No início do pronunciamento, chegou a elogiar os 34 signatários do documento final da Cúpula das Américas, que incluía a Venezuela, como países que "buscam a liberdade". Mas logo definiu a situação da América como uma encruzilhada: de um lado, uma visão de esperança, de governos representativos, de fé no poder de transformação; de outro, o medo, a crítica, o acirramento nas relações, a incitação de vizinhos contra vizinhos. "Nossas escolhas vão definir que América deixaremos para nossos filhos", declarou. Assessores do presidente insinuaram que ele se referia à Venezuela de Chávez."Países divididos em facções, que se perdem em velhas queixas, não podem prosperar", afirmou Bush, em outra referência indireta à Venezuela. Ele reconheceu que em muitos países do continente as instituições ainda são frágeis. Mas acrescentou que a justiça só será alcançada se a população acreditar nos poderes representativos e legalmente constituídos. O presidente americano também reforçou a importância de uma política de segurança efetiva, de combate aos traficantes de armas e drogas, aos terroristas e às quadrilhas que "corrompem a sociedade democrática". Defendeu a liberdade de imprensa, de expressão, de religião, repetindo o que já havia dito ao lado de Lula na Granja do Torto. Bush lamentou a expulsão do país do fundador de Brasília, Juscelino Kubitschek, por "forças anti-democráticas", na década de 60 - sem mencionar que os militares chegaram ao poder na época com apoio dos EUA. Ele concluiu sua última manifestação pública em Brasília com a defesa do combate à corrupção. "Neste começo de século, os governos do continente precisam ser justos, ouvir os seus povos e têm que se livrar da corrupção", arrematou. (PTL)