Título: Países definem alcance de rodada da OMC
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2005, Brasil, p. A5

Relações exteriores Brasil, EUA, União Européia e Japão se reúnem para avaliar negociação em ambiente pessimista

Ministros e representantes do Brasil, dos Estados Unidos, da União Européia (UE) e do Japão se reúnem hoje em Londres para começar a determinar o tipo de acordo que será possível alcançar até o final do ano nas negociações da Rodada Doha, lançada há quatro anos com o objetivo de liberalizar o comércio mundial. As negociações prosseguirão em Genebra, na Suíça, com outros ministros de quase 20 países. O nível de ambição na rodada continua diminuindo. O principal acusado é a União Européia, que resiste a abrir seu mercado a produtos agrícolas de outras regiões. Sem indicar o que pode apresentar hoje em Londres, o comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, enfatizou na sexta-feira a necessidade de "compromisso e sacrifício tanto nas demandas quanto nas ofertas [dos países]". Segundo negociadores, os Estados Unidos já ameaçam retirar sua oferta de corte de 60% nos subsídios domésticos que mais distorcem o comércio de produtos agrícolas, se Bruxelas não fizer novos movimentos para ampliar os cortes de suas tarifas. Com a hora das decisões se aproximando, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou a estratégia brasileira em reunião com os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Dilma Roussef (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Exteriores), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), na terça-feira passada. A orientação presidencial é para o Brasil reiterar que em primeiro lugar vem a agricultura e depois se discutirá o resto. Lula quer saber o que ganha antes no que mais lhe interessa, antes de se mover nas negociações de outros temas da rodada, como produtos industriais e serviços. "Os outros ministros [de agricultura] estão ligando cobrando", contou o ministro Roberto Rodrigues. "Eu disse que estamos prontos a discutir concessão [na área industrial] diretamente proporcional a agricultura." O ministro Celso Amorim traz a Londres um número que conforta a posição brasileira. Segundo cálculos do Itamaraty, a liberalização agrícola proposta pela UE não passa de cerca de 20%. Isso porque os europeus querem excluir da fórmula de cortes tarifários 8% de produtos ditos sensíveis e outros 55% estão na faixa de 0 a 30% pela qual a fórmula de liberalização tampouco é aplicada integralmente. Fontes do Ministério do Desenvolvimento informaram que várias alternativas de propostas na área industrial vem sendo estudadas, mas que nada está fechado. Diplomatas acham que dificilmente o Brasil colocará propostas hoje na mesa, até porque haverá na quarta-feira, em Genebra, uma reunião ministerial do G-20, o grupo de países em desenvolvimento que o Brasil lidera. Para o embaixador da Argentina na Organização Mundial do Comércio (OMC), Alberto Dumont, a estratégia é antes assegurar flexibilidade na negociação de produtos industriais. Ou seja, conseguir que até 10% das linhas tarifárias tenham cortes inferiores ao que a fórmula deverá prever, para manter a proteção a setores sensíveis à concorrência estrangeira. "Temos que garantir essa flexibilidade na área industrial, que os europeus querem em agricultura", disse. A convite da Índia, o Japão participa hoje da reunião ministerial de Londres. Será um aliado de peso para a União Européia. Se não houver progressos até o fim desta semana, a escolha será entre buscar um resultado que reduz as ambições da reunião ministerial decisiva que está marcada para dezembro, em Hong Kong, ou empurrar para o primeiro trimestre de 2006 as decisões sobre o tamanho dos cortes de subsídios e tarifas agrícolas e industriais. Nesse cenário, a questão que vai se colocar para o Brasil e outros exportadores é se vale a pena um acordo modesto após cinco anos de negociações, durante os quais o Brasil abandonou a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) e não conseguiu avançar nas discussões com a União Européia. A Fiesp apoiou em comunicado a estratégia de o Brasil só dar concessão na área industrial proporcional ao que obtiver em agricultura. (Colaborou Raquel Landim, de São Paulo).