Título: Pacto Serra-Alckmin definirá futuro tucano
Autor: Fernando Luiz Abrucio
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2005, Política, p. A6

Enquanto a maioria da opinião pública está de olho nas CPIs, o tempo para definição das candidaturas presidenciais para 2006 torna-se cada vez mais exíguo. O leitor poderá retrucar, dizendo que a última palavra partidária poderá ser dada até junho do ano que vem, algo ainda distante. Mas é preciso lembrar que a escolha do nome deverá ser precedida por três decisões: quem serão os concorrentes ao Palácio do Planalto, quais serão as alianças partidárias e, o mais difícil, a montagem de uma miríade de coligações regionais, as quais deverão ser muito complicadas por conta da provável manutenção da verticalização. Este cenário deverá ser mais rapidamente resolvido pelo partido que mais ganhou eleitoralmente com a crise política: o PSDB. É nele que os dilemas anteriores à eleição contêm o caráter mais decisivo. Sem delongas, o principal dilema tucano passa por um pacto entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, ambos com base político-eleitoral em São Paulo, pois provavelmente um deles será o presidenciável do partido. Os outros nomes à Presidência da República aventados anteriormente pelo PSDB não conseguiram até agora se cacifar para a disputa, e salvo algum acontecimento muito extraordinário, não há perspectiva de mudança de cenário. O ex-presidente Fernando Henrique só participaria do embate eleitoral caso o governo Lula fosse um completo fracasso político, mas as pesquisas mostram que o provável candidato petista tem conseguido manter algo em torno de 30% de apoio popular, o que não é pouco. O senador Tasso Jereissati e o governador Aécio Neves não decolaram nas sondagens de opinião e parece que isso não será modificado nos próximos meses. A despeito destes três nomes estarem praticamente fora do jogo, eles serão importantes eleitores dentro do partido, de modo que Serra e Alckmin precisarão ganhar a confiança de tais caciques. Aparentemente, escolher entre dois nomes é mais fácil do que selecionar um entre cinco. Só que a possibilidade de vitória mudou o quadro político dentro do PSDB. Enquanto o presidente Lula ainda era o franco favorito, havia mais nomes na disputa e, paradoxalmente, a decisão seria menos conflituosa. O mais cotado era o governador Alckmin, por conta principalmente de seu momento na carreira política, pois não poderia mais concorrer à reeleição em São Paulo, não tendo nada a perder com uma eventual derrota, e em razão de representar um perfil eleitoral com boa receptividade junto ao eleitorado: o do bom administrador. Se não ganhassem, pelo menos os tucanos ressaltariam algo que acreditam ser um importante diferencial em relação aos petistas: a maior competência técnica. Com a piora do quadro político para o governo Lula, o prefeito José Serra, recém-eleito prefeito paulistano, viu uma chance efetiva de ganhar a disputa. No antigo cenário, ele esperaria por "sua vez" em 2010, quando poderia contar, em tese, com o uso de sua gestão municipal como grande vitrine. Só que ele teria de enfrentar o governador Aécio Neves, o qual, num cenário a seu favor, utilizaria a boa administração do governo mineiro como plataforma eleitoral. Dado o maior trânsito de Aécio no restante do quadro partidário, inclusive entre os aliados preferenciais dos tucanos, suas chances seriam maiores. O bom desempenho nas pesquisas e a dificuldade de os outros nomes decolarem nas intenções de voto, além do recall de sua expressiva votação em 2002, são fatores que colocam Serra numa posição privilegiada. Seu nome é mais nacional do que o de Alckmin e haverá sempre o argumento que esta janela de oportunidades aberta pela crise não pode ser desperdiçada pelos tucanos com uma candidatura com resultados eleitorais bastante incertos. Porém, nem tudo são flores para Serra. Primeiro, sair da prefeitura no início da primeira gestão é algo que poderá ter impactos negativos junto ao eleitorado. Segundo, há suspeitas de que as baterias dos petistas poderão se voltar contra seu vice, particularmente em relação a irregularidades pregressas - e num momento que o PT vem sendo criticado no terreno ético, seria como igualar os dois partidos, colocando-os no mesmo e nefasto balaio. Por fim, e mais importante, o governador Alckmin é a grande força política do maior colégio eleitoral (o Estado de São Paulo), e sair sem seu apoio seria um desastre.

Acordo interno no PSDB é urgente

Os problemas de Serra poderiam dar força a Alckmin, o qual teria, ademais, uma imagem política bastante sintonizada com aquilo que pesquisas qualitativas têm apresentado como um possível ideal de candidato presidencial. Além disso, o mercado financeiro, os empresários e a Igreja Católica são muito mais simpáticos ao nome do governador paulista. Só que ele precisa ter densidade nacional e, sobretudo, popular, aspectos em que o prefeito paulistano está bem à frente. O PSDB está entre uma realidade e uma aposta, e há bons argumentos para defender as duas opções. Para alguns tucanos, deixar o tempo passar é a melhor forma de decidir com maior precisão. Mas há um problema neste raciocínio: a briga entre os dois possíveis candidatos pode se acirrar. E dividido o PSDB não ganha a eleição presidencial de jeito nenhum. Por isso, o ponto mais importante que deve ser definido antes de todas as outras coisas é a construção de um pacto entre José Serra e Geraldo Alckmin. As bases deste acordo e os fiadores dele precisam ser constituídos rapidamente, antes que a cizânia peessedebista se torne a alegria dos petistas. E ao contrário do que defende certa arrogância tucana, o presidente Lula não está morto eleitoralmente. ERRO Por pura distração, cometi sério erro na coluna da semana passada. O colunista Diogo Mainardi chamou o presidente Lula de o "bananão dos bananões", e não o senador Tasso Jereissati, como escrevi em meu artigo. Na verdade, como o irmão do senador foi colocado como eventual financiador da campanha petista, fiz a confusão familiar. Peço desculpas aos leitores e aos envolvidos.