Título: Chirac promete que vai punir agitadores
Autor: Ap | De Paris
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2005, Internacional, p. A8

França Na 11ª noite de violência, confronto com manifestantes deixa dois policiais em estado grave

O presidente da França, Jacques Chirac, prometeu ontem prender, julgar e punir aqueles que disseminarem "violência ou medo" na França. A declaração de Chirac foi dada pouco antes de eclodirem novos distúrbios no país, na 11ª noite consecutiva de violência. Em Grigny, ao sul de Paris, manifestantes atiraram contra a polícia, deixando dez policiais feridos, dois em estado grave. Houve tumultos também em Toulouse, no sul do país, e em Rennes, ao norte. Na noite anterior, incêndios provocados por jovens desempregados e filhos de imigrantes, antes restritos aos subúrbios de Paris, atingiram pela primeira vez cidades no Mediterrâneo e na fronteira com a Alemanha, além da região central da capital. Os jovens atearam fogo em cerca de 1,3 mil veículos e em comércios, escolas e símbolos da autoridade francesa, incluindo agências de correio e postos policiais. Em um discurso duro, Chirac disse que a "lei tem a última palavra". Foi sua primeira manifestação pública após o início da onda de violência. O presidente francês também declarou que o governo está determinado a promover "respeito por todos, justiça e igualdade de oportunidades". A revolta popular está concentrada em subúrbios pobres com grande concentração de imigrantes. "Mas há uma pré-condição, uma prioridade: o restabelecimento da segurança e da ordem pública", ressaltou Chirac. De uma explosão de raiva nos subúrbios de Paris, a violência se desdobrou em um show nacional de desdém pela autoridade francesa por parte de jovens, incluindo filhos de árabes e negros africanos, que se sentem vítimas de desigualdades. Manifestantes queimaram 1,295 mil veículos na noite de sábado para domingo em todo o país - número bastante acima dos 897 incinerados na noite anterior, informou o porta-voz da polícia nacional, Patrick Hamon. Segundo ele, 349 pessoas foram presas. A situação começa a se tornar alarmante porque a violência já chegou à bem-guardada capital francesa. A polícia informou que 35 carros foram queimados, a maior parte deles nas regiões próximas à divisa da cidade ao norte e ao sul. Na região central, bombas de gasolina atingiram três carros próximo à Place de la Republique. Moradores informaram ter ouvido uma grande explosão. "Ficamos com medo", disse Antonie Partouche, de 55 anos, que assistiu aos carros queimando da janela de seu apartamento. "Ficamos com medo de sair do prédio." "O que percebemos é que os grupos de jovens estão, pouco a pouco, tornando-se mais organizados, arquitetando ataques por meio de mensagens no celular e aprendendo como fazer bombas de gasolina", disse Hamon. A polícia encontrou uma fábrica de bombas de gasolina em um prédio abandonado em Evry, ao sul de Paris, com mais de cem garrafas que seriam transformadas em bombas e outras 50 já prontas. Seis jovens foram presos, todos abaixo de 18 anos. A descoberta, no sábado à noite, indica que as bombas não estão sendo feitas de forma improvisada pelos manifestantes. Nas dez noites de violência, 3,3 mil carros, ônibus e outros veículos já foram incendiados.