Título: Bancos emprestam mais ao Brasil
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2005, Finanças, p. C1

Crédito internacional Movimento em 2005 já supera os US$ 6 bi, o maior volume desde 2001

A turbulência no mercado de bônus não afetou os empréstimos externos sindicalizados - com a participação de vários bancos - ao Brasil. Pelo contrário, o movimento no mercado de crédito bancário internacional está atipicamente forte para esta época do ano. Há mais de US$ 3 bilhões em operações em andamento. Se os empréstimos quase fechados, de US$ 1,26 bilhão, forem somados aos já liquidados neste ano, chega-se a um valor de US$ 6,413 bilhões, um recorde desde os US$ 10,016 bilhões de 2001, segundo o Valor Data. As empresas brasileiras estão aproveitando as condições favoráveis e têm adiantado operações que só aconteceriam em 2006. "Os spreads dos empréstimos externos têm melhorado a cada dia", afirma o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa. A Petrobras, sob a liderança do ABN AMRO, negocia empréstimo de US$ 400 milhões para a construção da plataforma de petróleo P 53. A plataforma é alugada de uma subsidiária da Petrobras no exterior e o fluxo de pagamento do aluguel para fora do país vai para amortizar o empréstimo, que tem prazo de sete anos e taxa de juro de 1,25% ao ano sobre a Libor, a taxa interbancária de Londres. Como o fluxo externo de serviços nunca deixou de ser pago no Brasil, nem em épocas de moratória, o risco da operação é reduzido. A onda de empréstimos "stand-by" no Brasil continua forte. Por meio desse tipo de crédito, a empresa paga uma comissão para ficar com os recursos disponíveis e só saca quando quiser. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) está tomando esse tipo de linha, no total de US$ 300 milhões, e o Grupo Votorantim, outros US$ 300 milhões. "O stand-by ajuda a melhorar os indicadores de liquidez e a nota de crédito da empresa", diz Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial. A Votorantim Participações, holding do grupo, acaba de receber o grau de investimento, selo de investimento não-especulativo, da Standard & Poor's. A Petrobras, que já é grau de investimento, está tomando US$ 1 bilhão em "stand-by" bilaterais com vários bancos, com prazo de um a dois anos para sacar e de prazo de um a dois anos para pagamento após o saque. Barbassa diz que a operação compensa financeiramente. Hoje, para ficar com liquidez disponível em dólar a Petrobras tem de pagar pouco menos de 7% ao ano por dez anos no mercado de bônus, por exemplo. Mas aplica esse caixa no curto prazo a cerca de 4,5% ao ano. O custo é de 2,5% ao ano. O custo da comissão dos "stand-by" que a Petrobras tem tomado é bem menor: 0,25% ao ano. Já a CSN quis contratar "uma garantia adicional de liquidez", neste momento de spreads em recorde de baixa, segundo Octavio Lazcano, diretor financeiro. A idéia é aproveitar o bom momento e se precaver contra possíveis futuras turbulências em 2006 ou depois. "As condições de liquidez para as empresas brasileiras podem ficar mais restritas", afirma Lazcano. Segundo ele, uma puxada nos juros básicos americanos acima do esperado pode piorar a disponibilidade de crédito. As eleições em diversos países em 2006, inclusive no Brasil, também têm feito as empresas anteciparem operações que só seriam realizadas no ano que vem, diz Paulo Bernardo, diretor do mercado de capitais do BBVA. "Há uma escassez de bons ativos para os bancos no mundo todo hoje, pois as empresas estão capitalizadas de uma forma geral", afirma Bernardo. Isso gera uma pressão sobre as margens dos bancos, que partem em busca de ativos e entram em guerra de preços para ganhar operações. Por isso as condições tão favoráveis, acredita. "É uma oportunidade ímpar, com baixa recorde em preço e volumes de sobra", diz Ernesto Meyer, responsável pela área de financiamentos estruturados do BNP Paribas. Sob a liderança do BNP, o Banco Votorantim conseguiu a participação de 15 bancos no seu empréstimo de US$ 200 milhões por dois anos para capital de giro: Banco do Brasil, Bradesco, Bladex, Calyon, Citigroup, WestLB, HVB, ABN-AMRO, BNL, UFJ, Mizuho, Fortis, San Paolo e Nordea. E pagou 0,75% sobre a Libor. "Houve oferta de crédito de sobra", informa Meyer. Segundo Mohcine Busta, do Société Générale, o mercado neste segundo semestre "está bem agitado", com as empresas correndo para fechar operações antes da virada do ano, com medo de dificuldades que possam vir a ter no início do ano que vem. "O mercado está surpreendendo pelo volume de operações", diz. "Investimentos estão saindo do forno", completa Busta.