Título: Para CNI, queda de 1,27% nas vendas em setembro revela só acomodação
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Brasil, p. A-3

A indústria registrou uma acomodação no ritmo de atividade em setembro, informou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Tanto o volume de vendas quanto as horas trabalhadas e a utilização da capacidade instalada diminuíram em relação a agosto, mas, segundo os técnicos da entidade, o desempenho não significa uma interrupção na tendência de crescimento, uma vez que os indicadores relacionados ao mercado de trabalho na indústria foram positivos durante o mês. As vendas reais da indústria de transformação caíram 1,27% em setembro em relação ao mês anterior na série com ajuste sazonal. "O recuo não pode ser visto como uma reversão do ritmo de crescimento, mas simplesmente uma redução para bases sustentadas", afirmou Flávio Castelo Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da confederação da indústria. Levando-se em consideração os dados acumulados no terceiro trimestre do ano, a CNI verificou crescimento sobre o período entre abril e junho de 0,36%. Foi o quinto trimestre seguido de expansão das vendas, fato que repete o dinamismo da economia no biênio 2000/2001.

Castelo Branco salientou ainda que o crescimento do último trimestre foi relativamente baixo porque a base de comparação foi "extremamente elevada". Segundo o economista da entidade, nos três trimestres anteriores, a expansão média das vendas industriais foi de 5,7% a cada três meses, um ritmo que, de acordo com Castelo Branco, "não se sustenta no longo prazo". Em relação a setembro do ano passado, as vendas aumentaram 15,63% e no acumulado de janeiro a setembro a alta nas vendas é de 16,87% em relação ao mesmo período do ano passado. O número de horas trabalhadas na produção em setembro, descontados os efeitos sazonais, ficou 0,02% menor do que o verificado em agosto. Já no terceiro trimestre, esse indicador aumentou 2,79% em relação ao segundo, acumulando a quarta variação positiva em seqüência. Em comparação com setembro de 2003, as horas trabalhadas na indústria de transformação elevaram-se 7,33%. A utilização da capacidade instalada, por outro lado, interrompeu uma seqüência de quatro meses de crescimento e recuou ligeiramente: caiu de 83,2% em agosto para 83,0%, já descontados os fatores sazonais. No mesmo período de 2003, o nível de utilização a capacidade instalada pela indústria foi de 80,2%. "O que importa é que, no longo prazo, há uma clara tendência de aumento da utilização da capacidade instalada, apontando para a necessidade de investimentos", comentou Castelo Branco. Esses investimentos, acrescentou o economista, dependem em parte do "grau de confiança" dos empresários em relação à política monetária do governo. "Se houver uma tendência de elevação das taxas de juros, é possível que essa tendência seja revertida", destacou. A série de indicadores negativos em relação a agosto não afetou a projeção da Confederação Nacional da Indústria de uma manutenção do crescimento da atividade ao longo dos próximos meses. "Os dados de mercado de trabalho são muito positivos e mostram que os empresários estão dispostos a manter um ritmo forte de produção", salientou Castelo Branco. "As decisões que afetam os níveis de contratação são mais consistentes e levam em conta o cenário de longo prazo", acrescentou. O pessoal empregado na indústria ficou 0,78% maior em setembro, enquanto os salários líquidos reais cresceram 1,04% na comparação com o mês de agosto. Em relação a setembro de 2003, os salários ganharam 11,09% de poder de compra. Desde 1995 a CNI não observava crescimento de dois dígitos nessa base de comparação.