Título: Repasse é o menor dos últimos três anos
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Brasil, p. A-4

O atual nível de repasse dos preços industriais do atacado para o varejo é o menor desde o início do regime de metas de inflação. Duas metodologias diferentes demonstram que o reajuste que chegou ao consumidor no acumulado de janeiro a setembro desse ano corresponde de 0,35% a 0,41% da alta de preços que ocorreu no atacado. Os percentuais de repasse do Índice de Preços do Atacado (IPA) para a cesta de produtos industrializados do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) variaram entre 0,43% e 0,95% no ano passado e entre 0,46% e 0,47% em 2002. O levantamento é de Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O economista fez dois cálculos diferentes e chegou à mesma conclusão. No primeiro, apenas dividiu o IPCA industrial pelo IPA industrial. No segundo, utilizou um modelo econométrico e considerou a influência de outras variáveis no IPCA industrial, como o nível de atividade e os choques externos. "O repasse de preços é pequeno porque a economia está crescendo de forma assimétrica. Além disso, a concorrência evita novos aumentos. Não há renda sobrando", explica Gomes Filho. Até o aumento da gasolina, que impulsiona a inflação, pode contribuir para evitar repasse do atacado para o varejo. O gasto com combustível, faz o consumidor cortar outras despesas. Para Gomes Filho, o Banco Central errou ao aumentar a taxa de juros. "O BC deveria olhar mais para a economia real do que para a inflação futura", alerta. "As previsões futuras estão contaminadas pela possibilidade de novas altas do petróleo. Se a economia perder força, o repasse do combustível não chega a outros setores", avalia. O economista acrescenta que a economia já está desacelerando naturalmente. O consumidor está no limite do endividamento e a renda não mostra o vigor necessário. Para Gomes Filho, ao aumentar os juros, o governo pode desestimular os investimentos, necessários para que a economia cresça sem pressão sobre preços. O grupo de conjuntura da UFRJ revisou de 7,2% para 7% sua previsão para o IPCA em 2004. A queda dos preços das commodities agrícolas deve compensar o aumento de tarifas e dos combustíveis que devem ocorrer até o final do ano. O percentual está acima da meta de inflação de 5,5% estabelecida pelo governo para 2004, mas dentro do limite de tolerância de 2,5%. Para 2005, a equipe da universidade carioca prevê alta de 6,2% para o IPCA. O governo trabalha com 5,1%. Gomes Filho lembra que apenas os preços administrados aumentarão entre 7% e 8%. Para a inflação terminar 2005 no patamar estabelecido, os preços livres, - determinados pelo mercado-, teriam que subir apenas 4,1%. A última vez que a inflação desses itens ficou nesse nível foi em 2001.