Título: Dividido, PMDB mantém obstrução
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Poítica, p. A-8

A emenda da reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado impulsiona a ala do PMDB que deseja romper com o governo federal e mantém as obstruções na Câmara. "Este é o episódio que tumultua o PMDB", afirmou ontem, durante reunião da bancada, o presidente nacional da legenda, Michel Temer (SP). A maior parte do partido continua solidária ao líder no Senado, Renan Calheiros (AL), candidato a presidente da Casa no próximo ano e principal articulador contra a emenda, que é apoiada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em minoria no PMDB e frustrada com a falta de unidade no governo em relação ao tema, a ala sarneyzista já começa a se afastar. "Defendo que o partido entregue os cargos, a não ser que o PMDB saiba exatamente o que quer e o que fazer. Precisamos definir melhor qual é o papel do PMDB, porque há uma enorme insatisfação", disse o deputado Gastão Vieira (MA), um dos principais articuladores de Sarney. O ambiente de impasse dentro da legenda deve se amplificar hoje, em que o partido deverá reunir todos os membros da Executiva, parlamentares, os seis governadores, presidentes de diretórios regionais e os dois prefeitos eleitos de capital para discutir a relação do PMDB com o Planalto. Embora o encontro seja de caráter simbólico, por não representar nenhuma instância decisória do partido, não está descartada a hipótese de a Executiva decidir, mesmo sem reunião convocada, agendar uma convenção nacional para definir a relação com o Planalto. A convocação da convenção é tudo o que a ala pemedebista que deseja romper com o governo quer. O poder da cúpula sobre os convencionais não é absoluto. Durante o governo Fernando Henrique, a direção do PMDB impediu a candidatura própria, mas não conseguiu aprovar a aliança da sigla com o PSDB para apoiar a reeleição do ex-presidente. "Contamos com a pressão da base do partido", afirmou ontem o deputado Geddel Vieira Lima (BA). Em encontro ontem no Recife, os governadores pemedebistas de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, defenderam a saída do partido da base governista. Rigotto disse que caso a reunião da legenda que acontecerá hoje decidir pelo afastamento, aqueles que pos-suem cargos no governo terão duas opções: deixar o cargo ou o partido. O gaúcho também sugeriu o nome de Jarbas para compor uma chapa presidencial em 2006. Na reunião de ontem, o líder da bancada, José Borba (PR), foi um dos raros a minimizar a importância da emenda da reeleição e dizer que tudo começará a se resolver se o Palácio pagar as emendas orçamentárias com mais rapidez. "A liberação é um condicionante. A reeleição não é um problema grave e não se insere na conta do PMDB. Aliás, não há um problema do PMDB, mas da Câmara com o governo, em função do orçamentária", disse. Até a semana passada, apenas 16% das verbas de investimento no Orçamento haviam sido liquidadas. (colaborou Paulo Emílio, do Recife)