Título: Já na América Latina, pobreza vem crescendo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Internacional, p. A-9

Ao contrário do movimento visto na Ásia nos últimos anos, a pobreza na América Latina tem oscilado muito, em geral para cima. Os dados mais recentes da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, da ONU) mostram que 44% dos latino-americanos estavam em estado de pobreza em 2002, o equivalente a 220 milhões de pessoas. Destas, 97 milhões, ou 19,4% da população total, se enquadravam em estado de indigência ou extrema pobreza. Para efeito de comparação, em 2000 a pobreza atingia 207 milhões de pessoas (42,5%) e a indigência, 88,4 milhões (18,1%). Em relação a anos anteriores, durante a década de 90, a pobreza e a miséria na América Latina sofreram oscilações, o que está diretamente ligado às mudanças também registradas no desempenho das economias locais. A Cepal mostra que a pobreza aumentou no continente 0,5 ponto percentual em 1997, período marcante por ter dado início a uma série de crises financeiras. A avaliação país por país entre os períodos 1999/ 2001/2002, porém, mostra desenvolvimentos diferentes. Na Venezuela, houve redução da taxa de pobreza de mais de cinco pontos percentuais em 2000, seguida de forte incremento em 2002 em decorrência da queda de 9,6% do PIB. Os casos mais marcantes são Argentina e Uruguai. No primeiro, a crise econômica do país fez a taxa de pobreza duplicar entre 1999 e 2002 - pulando de 19,7% para 41,5%. Já a indigência terminou o período quatro vezes maior, saltando de 4,8% para 18,6%. No caso uruguaio, a pobreza passou de 9,4 da população total para 15,4%. A indigência manteve-se no nível de 2,5% da população total. No Brasil, a pobreza aumentou no primeiro ano de governo Lula (2003). Segundo cálculo de Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, a parcela da população que não ganha o suficiente para comer passou de 26,23% em 2002 para 27,26% no ano passado. São 47,4 milhões de brasileiros que não têm dinheiro para comprar a cesta básica que lhes garanta o consumo diário de 2.888 calorias, nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde. "A miséria cresceu fortemente nos grandes centros urbanos, de 16,6% para 19,4%. A crise econômica explica o agravamento dos indicadores sociais. Já no campo, caiu de 51,4% para 51%, sinal de que as políticas públicas adotadas desde o último governo começam a ter efeito", diz o documento.