Título: Operação, aguardada pelo mercado, consolida a companhia mineira
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1

O fechamento de capital da Cosipa é emblemático para a Usiminas. Primeiro, porque não faz mais sentido, conforme a avaliação de analistas do setor, manter a siderúrgica paulista listada em bolsa com uma baixíssima liquidez. Atualmente, 96,1% do capital votante e 92,6 % do total da empresa já se encontram em poder da Usiminas. A Cosipa, embora tenha renascido das cinzas a partir de 2002, voltando a ser lucrativa, não desperta mais nenhum tipo de interesse aos investidores. Outra avaliação indica que a Usiminas consolida-se como um grupo produtor importante no ranking internacional. Até agora, as duas empresas eram vistas separadamente, ocupando, respectivamente, o 50º e 57º lugares na lista de 2003 do International Iron and Steel Institute (IISI). Juntas, esse grupo se enquadraria na 22ª ou na 23ª posição do IISI. Isso, entretanto, não muda sua condição de pouco peso no movimento mundial de consolidação do setor, que começa a formar grupos com bases intercontinentais. A Mittal Steel, com 57 milhões de toneladas, está posicionada na América do Norte, na Europa, na África e na Ásia. A vice-líder mundial Arcelor é a maior da Europa e caminha para assumir a liderança no Brasil no mais tardar em em 2007. Na percepção de especialistas, a operação anunciada ontem pela Usiminas traz pouca mudança em relação ao dia-a-dia das duas empresas, que já vêm divulgando resultados consolidados desde 2003. "É preciso ver o balanço a ser publicado na próxima semana para entender melhor a decisão tomada pela Usiminas", diz Mônica Carvalho, analista da Voga Advisory. Para alguns, foi um certo alívio tardio. Há cerca de cinco anos o mercado aguardava um posicionamento mais agressivo por parte da direção da Usiminas. É quase certo que uma das explicações da demora foram as vantagens em usufruir os créditos fiscais oriundos da reestruturação da Cosipa feita em 1999 e consolidada dois anos depois. Pela operação, na época denominada "drop down" e muito contestada por acionistas minoritários, a Cosipa incorporou a Usiminas e trocou seu nome pelo da siderúrgica mineira. Como a usina paulista acumulava bem mais de R$ 1 bilhão em prejuízos, a Usiminas obteve benefícios compensados em seus balanços. Em 1998, desde o primeiro semestre, a Cosipa estava quebrada financeiramente. Os principais sócios - um grupo de distribuidoras de aço, o banco Bozano Simonsen e o clube dos empregados, com a Usiminas à frente - demoraram a tomar uma decisão drástica, o que levou a empresa à beira da falência. Escapou por muito pouco. Em novembro de 1998, a Usiminas anunciou uma reestruturação financeira, patrimonial, societária e operacional para a Cosipa. Pela operação, a siderúrgica mineira assumiu mais de R$ 1 bilhão em dívidas (valor que teve em contrapartida a garantia por meio de debêntures conversíveis em ações e o recebimento do terminal portuário da Cosipa). Outra medida foi fechar uma de suas linhas de produção, que operava com tecnologia obsoleta, e construir outra no lugar três anos depois toda voltada para o mercado de exportação. Ao converter as debêntures, com uma diluição dos acionistas minoritários em quase nove vezes, a Usiminas elevou sua participação de 49% para 93% no capital da Cosipa. Obteve ganhos, mas também paga o ônus de levar para seus balanços o pesado endividamento da controlada. Nos últimos anos, a Usiminas não tem feito outra coisa que não abater dívidas. O reaquecimento da indústria mundial do aço foi uma tábua de salvação. Privatizada em 2003, a Cosipa tem usina, em Cubatão (SP), com capacidade para produzir 4,5 milhões de toneladas de aço bruto. Está bem ao lado do principal mercado consumidor do país.